Jessé Souza

Jesse Souza 24 03 2016 2190

A favela – Jessé Souza*

Sabemos de cor e salteado que o sistema prisional de Roraima está falido. E não é de hoje. Ao longo dos seguidos governos, não houve investimentos para ao menos resolver a questão estrutural dos presídios. Se muito fizeram os políticos, no máximo foi convocar audiência pública e seminários para discutir o que todos já sabemos.

Não se viu parlamentar destinando recursos de suas emendas para estruturar o sistema prisional. Nem existiu planejamento para captar recursos de programas federais a fim de amenizar o caso. Dos recursos que chegaram, boa parte acabou no ralo da corrupção.

Com os presídios construídos ainda no tempo de Território Federal, é óbvio que um dia a estrutura iria chegar ao seu limite, já que nem reformas substanciais, como forma de paliativo, vinham sendo feitas pelos governantes, pois presídios sempre foram vistos com depositários de gente que tinha de ser banida do convívio da sociedade.

E assim foi feito e assim se tornou a Penitenciária Agrícola de Monte Cristo (Pamc). Agora estão querendo convocar os diretores do sistema para dar explicações. Explicar o quê?! O que todos já sabemos?! Repetir o que já vem sendo dito por seguidos governos de que a culpa é da administração anterior?!

Não há apenas um único culpado ou uma única administração culpada. Todos são culpados. Ninguém pode tirar sua responsabilidade da reta sabendo que a Pamc começou a ser erguida ainda na década de 70, o que significaria que daria tempo suficiente para pensar em novas alternativas ao longo dessas quatro décadas. Mas ninguém pensou e todos empurraram o problema com a barriga.

Os bandidos já mostraram que fazem o que querem lá dentro. Da forma que está, nem o Capitão Nascimento, caso ele existisse mesmo, conseguiria consertar o sistema prisional roraimense. E não haverá solução, a curto ou longo prazo, se não houver uma mobilização acima dos interesses partidários e de grupos.

Enquanto os políticos ficam tratando esse problema com debates, o cenário continuará o mesmo, com presos mandando e desmandando no sistema, e o governo correndo atrás do prejuízo, tapando o sol com a peneira, se valendo do esforço de poucos servidores e policiais que se esforçam para que os presídios não piorem o caos.

Não há como pensar em conter esse caos dentro da Pamc enquanto houver uma favela no meio daquele presídio. Aquela favela é o símbolo do que é o sistema prisional roraimense. E é isso o que se tornou aquela unidade prisional: uma favela comandada pelos bandidos. Não tem o que explicar nada.

*Jornalista – Acesse: http://www.roraimadefato.com/main