Próximos capítulos – Jessé Souza*
No dia 23 de janeiro passado, escrevi aqui, neste mesmo espaço, o artigo intitulado “Da Itália a Roraima: só perguntas”, no qual comentei a respeito do que está ocorrendo no Brasil, fazendo uma comparação com o passado da Itália. Frisei que estavam levando um processo de caça à corrupção demonizando um único partido, o PT, o que vinha dando certo naquele momento, pois a opinião pública absorveu a ideia de que só existiria mesmo um partido corrupto, causa de todo o mal no Brasil.
Comentei que, na Itália, berço das maiores máfias mundiais, o combate à corrupção travou quando descobriram que a bandalheira era geral e profunda, mexendo com todo mundo, com toda estrutura da sociedade daquele país. Então, como poucos escapariam da guilhotina, os italianos chegaram a uma conclusão: “Se todos são culpados, logo todos são inocentes”.
No Brasil, a culpa por tudo de errado passou a ser de um único partido a partir das canetadas do juiz Moro, que tem sido seletivo no julgamento de seus processos e no vazamento de informações e grampos telefônicos para a imprensa (Leia-se Globo), incendiando o país em uma caça aos “comunistas” – como eles passaram a chamar o PT.
E assim seguiu-se com a Operação Lava Jato até a semana passado, quando surgiu a lista dos 200 nomes da Odebrecht, mostrando que a corrupção é antiga e endêmica, uma “sopa de letras partidárias”, com as mais diversas siglas partidárias sendo bancadas pelo dinheiro sujo nas campanhas eleitorais.
Logo os discursos mudaram, pois a indignação geral não foi a mesma, o panelaço não foi mais para as ruas, o juiz Moro não pesou sua caneta na mesma dose com os demais partidos e a Globo passou a “falar fino” com a lista dos 200, com todos dizendo que “é preciso investigar mais”, demonstrando que a Lava Jato, agora, pode caminhar para a “italianização” de seu trabalho; ou seja, se todos são culpados, então pode ser que todos sejam considerados inocentes.
Não se pode conceber que, se há muitos culpados, apenas um, ou uma parte, ou um partido apenas seja responsabilizado. É preciso punir todos os corruptos na mesma dosagem, pois a desratização precisa completa se quisermos mesmo retirar a lama fétida que infesta o Brasil.
E aqui repousa o futuro da Lava Jato: haverá vontade de se punir todos os corruptos indistintamente? Ou vão ficar demonizando apenas um partido, manipulando a opinião pública por meio da Globo? Ou caminharemos para repetir o que fez a Itália com os mafiosos de lá, chegando à conclusão de que, se todos são culpados, logo todos inocentes?
Cenas dos próximos capítulos…
*Jornalista – Acesse: http://www.roraimadefato.com/main