Legado de 2015
A Operação Lava Jato tem servido para mostrar como a corrupção, no Brasil, se entrelaça com outros tipos de crimes e envolve o centro do poder. Embora esse escândalo tenha escancarado as artimanhas dos políticos sem escrúpulo, nada disso chega a ser novidade.
A política partidária vem se lambuzando com dinheiro sujo há muito tempo em forma de compra de apoio, de partido e de lideranças. Não é sem sentido que os operadores do esquema estão sempre no topo, em Brasília, alguns deles se mantendo no governo, apesar da troca de presidentes e de partido.
Seja o que acontecer daqui para frente, o ano de 2015 ficará gravado na memória do brasileiro como o que possibilitou a Nação perceber como as entranhas do poder se movimentam, por meios de seus atos corruptos, para garantir recursos aos seus esquemas e para lavar o dinheiro sujo que advém disso tudo.
E isso não é muito diferente do que ocorre nos municípios e nos estados Brasil afora. Essa forma de se locupletar dos cofres públicos institucionalizou-se, criando raízes profundas na República, daí a dificuldade que os órgãos fiscalizadores enfrentam para desmontar os esquemas e prender os larápios.
Os municípios pobres onde a população come o pão que o diabo amassou certamente estão assim por serem vítimas da corrupção, cujos seus tentáculos não dispensam dinheiro da merenda escolar nem da compra de remédios para hospitais. Não há consciência ou piedade com o povo nos atos comandados pelos corruptos.
Vez por outra, alguns esquemas são desmontados por algum motivo, como vem ocorrendo no Município do Cantá, onde a Polícia Federal tem apontado a sujeira que ficou debaixo do tapete por muito tempo. E, da mesma forma, outras cidades precisam da atuação da polícia, dos órgãos fiscalizadores e da Justiça.
Infelizmente, o poder de alguma faz questão de mostrar que está fazendo algo para que a sociedade não deixe de acreditar que os crimes são combatidos. É por isso que o papel de quem denuncia, protesta ou divulga é importante neste processo, uma vez que as autoridades só costumam agir quando sabem que estão sendo pressionadas, monitoradas e cobradas.
Então, este 2015 precisa ser o ano da tomada de consciência por parte do cidadão em relação a esse lamaçal. No que pese o poderio político e econômico que impõe barreiras para que a corrupção seja fiscalizada e punida, a Lava Jato é o exemplo de que é possível furar os bloqueios.
É necessário cobrar a execução da Lei da Transparência em todos os níveis, exigir a ação atenta dos órgãos fiscalizadores e ter na imprensa o monitoramento do centro do poder. A sociedade não pode sair deste ano inerte ou achando que nada pode mudar. Pode, sim, desde que haja essa tomada de consciência do papel do cidadão que cobra, contesta e monitora. Esse deve ser o legado do ano que chega ao fim.
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