Tarde muito quente e eu caminhando em passos curtíssimos. De repente olhei para minha estante, a mente acordou, e senti saudade. E a saudade me levou bem distante, através dos livros na estante. De 1999 até 2004, morei em um apartamento de um edifício na Rua Conde de Sarzedas, na Sé, ao lado da Praça, em São Paulo. Eu estava cuidando do meu filho, Alexandre Magno, que estava lutando contra a ELA-Esclerose Lateral Amiotrófica. Foi um período enriquecedor, tanto para mim quanto para o Alexandre e toda a família. Fizemos amizades excelentes em todo o edifício. Temos uma história pra contar. Mas o que importa mesmo, agora, é o que veio à minha lembrança, olhando para meus livros na estante. Morávamos no oitavo andar do prédio e tínhamos como vizinhos um casal, com o qual tínhamos uma amizade que me honra até hoje, e me honrará por toda minha vida. O marido é advogado atuante, e a esposa uma senhora de idade madura, e respeitada com merecimento.
Certo dia, saí do elevador e ia passando em frente à porta da vizinha, quando ela falou:
– Afonso… pera aí que tenho algo pra você.
Ela veio até a porta trazendo um caixa de papelão, parecendo bem pesada. Entregou-me a caixa, dizendo:
– Taí… guardei isso pra você. Faz tempo que estou guardando isso, porque não entendo por que é que ele fica o tempo todo enchendo minha sala com essas porcarias.
Cismei, mas não comentei. Poucos passos depois, entrei no meu apartamento e foi aí que fiquei tonto com a surpresa. Dentro da caixa estavam 22 livros novos e de excelente qualidade. Fiquei atônito e sem saber o que fazer, porque certamente, o marido dela e meu vizinho com quem eu tinha um bom relacionamento, iria saber por que ela me dera os livros dele. E sobretudo por que ela me dera os livros como meras porcarias. Mas ele, nem ela, jamais falaram sobre o assunto. E os livros estão aqui, na minha estante. São livros excelentes, dez dos quais são sobre os grandes Presidentes do Brasil.
Nada mais importante do que viver cada momento da vida como ele deve ser vivido. As amizades sempre nos fazem bem. O importante é que saibamos cultivar e manter as amizades com respeito e muito amor. Com certeza, logo que eu estiver em Sampa, irei visitar meus vizinhos na Conde de Sazedas. E mais importante é que o edifício em que morei, fica na esquina da Conde de Sarzedas com a João Carvalho. Um abração, João. Pense nisso.
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