JESSÉ SOUZA

Mais uma grande apreensão de droga e o poder do crime que se desenha

Com as ações contra o garimpo na terra indígena, tráfico de drogas voltou a ser a principal atividade do crime organizado

A apreensão de cerca de 300Kg de skunk, chamada de supermaconha, na queda de uma aeronave na região do Monte Cristo, zona rural de Boa Vista, na quarta-feira, 23, foi a segunda maior realizada em Roraima este ano. A maior, totalizando 350Kg, ocorreu no mês de junho, em uma fazenda no Município de Rorainópolis, no Sul do Estado. Mas o ano passado registrou números bem maiores.

Em dezembro de 2022, foram 234Kg da mesma droga apreendidos pela Polícia Civil e mais 500Kg apreendidos pela Polícia Federal. Ou seja, só naquele mês foram 834Kg tirados de circulação. E tem muito mais droga voando solta por aí, a partir de pistas clandestinas espalhadas pelo Estado, especialmente no entorno de áreas que dão apoio ao garimpo ilegal.

Para se ter uma noção do poderio econômico, 300Kg de skunk pode render mais de R$ 2 milhões em dinheiro vivo para os traficantes. Mas essas cifras podem ser bem maiores, pois o tráfico de drogas se intensificou junto com o estouro do garimpo ilegal na Terra Yanomami, crime este que ainda resiste sob a proteção do crime organizado.

O garimpo ilegal tem o poder de reunir as mais diversas atividades criminosas em seu entorno, se aliando inclusive com a corrupção na política, o tráfico de droga e de armas, evasão de divisas, cujos principais reflexos são a violência urbana e a criminalidade. E mais: esse é o cenário perfeito para o surgimento de milícias, conforme apontou a Operação Ikaros.

Para quem não lembra mais, a Operação Ikaros foi deflagrada em 15 de janeiro deste ano, pela Polícia Civil, que passou a investigar a cooptação do crime organizado de agentes do Estado para que integrassem uma milícia armada. Trata-se da investigação do caso da morte de um policial militar durante a tentativa do furto de uma aeronave que atuava no garimpo ilegal, em setembro de 202.

Os acusados de integrar o grupo miliciano são três policiais militares, um policial civil, um policial penal, um ex-militar do Exército, além de outras pessoas civis. Tudo dentro do que foi comentado no artigo anterior com base no alerta feito por um delegado da Polícia Civil. Por isso, a fala do delegado não foi nenhuma novidade, mas serve para mostrar que as ações das autoridades precisam ser reforçadas no combate ao surgimento de milícias.

Com as operações de desintrusão de garimpeiros da terra indígena, o tráfico de drogas voltou a ser a principal atividade do crime organizado, que se aproveita da imigração desordenada, a qual só tem aumentado nos últimos meses, facilitando inclusive a ação de uma fação venezuelana, conforme também já foi comentado neste espaço em outras ocasiões.

Está tudo bem desenhado. Quem percorre as rodovias federais e estaduais, especialmente na “transgarimpeira” que liga os municípios de Alto Alegre e Mucajaí, facilmente percebe que as placas de sinalização estão pichadas com o símbolo de uma facção criminosa. Significa que tem muita faxina a ser feita, mas os políticos só pensam na próxima eleição. Os sinais que se apresentam não são nada bons.

*Colunista

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