JESSÉ SOUZA

Maletas de dinheiro e a necessidade do combate a antigas práticas de corrupção eleitoral

Canais de denúncias por meio de aplicativo de mensagens têm ajudado as autoridades a fazer apreensões de dinheiro (Imagem: Divulgação)

Em tempos não muito distantes, já houve caso de um carro com policiais ter capotado na estrada em que um helicóptero foi ao local somente para resgatar o pneu estepe recheado de cédulas. Parlamentar preso em flagrante distribuindo vagas em autoescola para tirar habilitação. Carros-fortes circulando na véspera de eleição em comitês eleitorais.

São apenas algumas cenas de um Estado onde a compra de votos sempre foi escancarada, em que chegamos ao absurdo de deputado federal se eleger distribuindo planta de casas que seriam doadas após eleito, enquanto os eleitores ficavam na esquina vendendo voto durante a noite anterior à votação, varando a madrugada esperando os cabos eleitorais com dinheiro.

A novidade do que estamos vendo agora, nestas eleições municipais, é a atuação mais efetiva da Polícia Federal (PF) e da Polícia Rodoviária Federal (PRF) a partir de denúncias aos canais de denúncias por meio de mensagens de WhatsApp, por onde podem ser enviadas mensagens de texto, vídeos e fotos. É a tecnologia mostrando sua importância nesses novos tempos.

São maletas de dinheiro circulando, inclusive na cueca, cujos carregamentos estão sendo interceptados pela polícia, inclusive em viatura do Departamento Estadual de Trânsito (Detran) com agentes fardados, o que caracteriza uma forte evidência da institucionalização da corrupção eleitoral, fato também que não se trata de novidade diante de fatos do passado, em que policiais foram presos.

A eleição suplementar no Município de Alto Alegre serviu para escancarar como é feita a disputa de voto, fatos estes se repetindo nas eleições de agora, como se nada tivesse ocorrido nem considerado o fato de a Justiça Eleitoral já estivesse decidido por recentes cassações de prefeitos e até do governador.

Por lá, foram cenas repetidas com inscrições para ações sociais, inclusive para o programa Cesta da Família, que foi criado em janeiro de 2022 após mudança de nome do programa social já existente, quando foi turbinado o número de beneficiários, saltando de 10 mil para 50 mil inscritos durante o ano eleitoral.

Nas eleições municipais, não custa lembrar, o programa social havia sido alvo da PF com apreensão de fichas cadastrais após denúncia de deputados de oposição sobre suspeita de crime eleitoral para beneficiar a candidatura a prefeito. No dia seguinte, a PF apreendeu 10 mil cestas básicas que muito provavelmente seriam usadas para a compra de votos.

Esta é a realidade de um Estado onde a população foi habituada a entrar na fila da cesta básica e a montar uma feira-livre de voto a cada pleito como forma de se locupletar da corrupção eleitoral, em uma cumplicidade que precisa ser combatida a fim de que a cidadania seja depurada por meio do combate aos crimes e punição a quem vende e quem compra votos.

Roraima não pode seguir como terra fértil para a corrupção em todos os níveis, onde convencionou-se a acreditar que eleições representam o momento em que o povo é convidado a participar dos esquemas para receber as migalhas que sobram do grande banquete realizado nos cofres públicos por políticos e seus comparsas.  

*Colunista

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