RORAIMA – CLIMA – RELEVO – AGRICULTURA E CRIAÇÃO DE GADO.
A penetração portuguesa na Amazônia brasileira buscava além da ocupação do espaço geográfico, alternativas econômicas que justificasse a presença na região, pois a simples presença militar e o extrativismo não eram suficientemente convincentes. Desde os idos de 1700, e mais marcadamente com a construção do Forte de São Joaquim (1775 – 1788), nas confluências do rios Uraricoera e Tacutu, nenhum produto agrícola era produzido pois até mesmo a farinha de mandioca vinha das comunidades ao longo do rio Negro (no Amazonas), para suprir as necessidades das tropas militares no Forte.
Diante dessa realidade, os extensos campos do rio Branco, com sua vegetação ímpar e de pastagem natural, foram vislumbrados como a alternativa econômica, nascendo assim o discurso de que Roraima tem vocação e potencial natural para a agropecuária. Com a vinda de bovinos para a região, a pecuária passou a ser ao longo de anos e século, a principal e talvez única, opção de desenvolvimento.
A pecuária bovina é a atividade agrícola mais remota da exploração do espaço rural de Roraima, tendo sido iniciada em meados do século XIX, com a introdução de animais da raça miúra de origem espanhola, haja vista a existência de extensas áreas de pastagem nativa.
O sistema de criação era super-extensivo não existindo sequer cercas limítrofes entre as propriedades. Por volta de 1912, a população bovina era estimada em 200 mil cabeças, atingindo 300 mil em 1920. No ano de 1930, um surto de doença diagnosticada na época como raiva dos herbívoros, causou mortalidade em cerca de 50% dos animais existentes. A partir de então, o rebanho voltou a crescer, atingindo 376 mil bovinos em 1988 e era estimada em 300 mil cabeças em 1994.
A partir da década de 1950, surgiram as primeiras colônias agrícolas, tais como Fernando Costa em Mucajai, Brás de Aguiar no Canta, Coronel Mota no Taiano e Santa Maria do Boiaçu no sul do Estado. A finalidade dessas colônias era o assentamento de colonos para que houvesse aumento na produção de alimentos básicos como arroz, milho e mandioca.
Posteriormente, a partir de 1970 novas colônias foram surgindo, dentre elas a de Serra da Prata, Surrão e Alto Alegre. Segundo dados do Instituto de Terras de Roraima (ITERAIMA), em 1995 existiam 39 colônias, todas em região de floresta com 9.021 lotes assentados de um universo de 13.020 lotes previstos para assentamentos rurais.
MEIO AMBIENTE – CLIMA.
A temperatura média em Roraima varia de 26 a 29 °C, sendo a média das máximas de 32,9 °C, com máxima absoluta de 36,6 °C, enquanto que a média das mínimas é de 23,9 °C e com a mínima absoluta de 21,0 °C. A umidade relativa do ar tem média anual de 76%, sendo maior nos meses de maior precipitação e menor no período de menor precipitação, porém permanecendo elevada durante todo o ano, com variações de 65 a 86%, para as médias da mínimas e máximas, respectivamente.
A insolação média em Boa Vista é da ordem de 2.139 horas, sendo o maior índice observado em outubro (245 horas) e o menor em junho (115 horas).
A velocidade do vento, a dois metros da superfície do solo é em média de 3,1 m/s, sendo maior de janeiro a março (4,1 m/s) e menor de junho a agosto (2,1 m/s).
VEGETAÇÃO.
Dos 230.104 km2 de Roraima, cerca de quatro milhões de hectares (17%) são cobertos por vegetação do tipo cerrado, também conhecido como savana, lavrado ou campos de terra firme. Dentre os arbustos destaca-se o caimbé ou lixeira (Curatella americana) e o murici (Byrsonima spp), enquanto que os buritizais (Mauritia flexuosa) identificam os pequenos cursos de água.
Por outro lado, ou seja, 83% do espaço territorial é coberto por vegetação de floresta sob diferentes formas em que se apresentam, com potencial madeireiro, limitações e exploração bastante variável. Nessas áreas encontram-se assentados cerca de 90% dos produtores rurais, em área desmatada estimada em 400 mil hectares.
SOLOS
Os principais tipos de solos de Roraima, de acordo com o Atlas de Roraima (1981), foram sintetizados em Embrapa (1983), como:
a) Latossolos (Amarelo, Vermelho Amarelo e Vermelho Escuro), que ocorrem em áreas com vegetação do tipo cerrado; b) Podzólicos Vermelho Amarelo, ocorrendo em área de floresta e em pequenas áreas de cerrado; c) Hidromórficos, em área de floresta e cerrado onde a drenagem é imperfeita; d) Planossolos, restritos a áreas com umidade contínua; e) Litólicos, ocorrendo com maior frequência nas fronteiras com a República da Guiana e Venezuela; f) Concrecionários e Lateritas, em área à margem esquerda do Rio Branco e alto Tacutu e, g) Areias Quatzosas e Aluviões, com maior ocorrência na margem direita do Rio Branco.
AGROECOSSISTEMAS
Considerando-se os aspectos de vegetação, o Estado de Roraima pode ser dividido em áreas ou zonas agroecológicas ou agroecossistemas:
a) área de cerrado, com altitude de 800 a 1.200 m, encontrada na região nordeste (Boa Vista e Normandia), com textura média a argilosa, relevo ondulado a forte ondulado (região serrana) e fertilidade muito baixa; E, com altitude de 100 a 500 metros, região norte, centro e leste (Boa Vista, Alto Alegre, Normandia e Bonfim), com solos de textura média a argilosa, relevo plano a ondulado e fertilidade baixa;
b) área de floresta equatorial, com altitude de 800 a 1.200 m, regiões norte, noroeste e oeste (Boa Vista, Alto Alegre e Mucajai), com solos de textura média e relevo ondulado a forte ondulado e fertilidade baixa. A aptidão da área é para preservação, lavoura ou pecuária. Por ser região serrana, com microclima de altitude, poderia ser usada para o cultivo de hortaliças e fruteiras que exigem temperatura mais amena como é o caso da região de Pacaraima;
E, com altitude de 200 a 800 metros, região noroeste, centro, sudoeste e sudeste (Alto Alegre, Mucajai, Caracarai, Bonfim, São Luiz e São João), com relevo suave ondulado a ondulado, textura média a muito argilosa e fertilidade baixa. A aptidão agroecológica indica possuir áreas para preservação, extrativismo, lavoura e pecuária.
Além das áreas de cerrado e floresta equatorial, destaca-se ainda a existência de 350.000 hectares de várzeas l
ocalizadas ao longo dos principais rios como Surumu, Tacutu, Uraricoera, Branco e Mucajai, atualmente exploradas com arroz irrigado.
PRODUÇÃO AGRÍCOLA
ARROZ – O plantio do arroz em Roraima apresenta três fases distintas em relação à produção. A primeira vem desde a colonização em área de mata, com produção de arroz de sequeiro e que permanece até a atualidade. A segunda fase ocorreu de 1977 a 1982, quando então os incentivos creditícios levaram a ocupação de extensas áreas de cerrado com essa cultura e a terceira, iniciada por volta de 1981/82, quando o fracasso da segunda levou alguns produtores para o plantio irrigado nas várzeas próximas da cidade de Boa Vista.
SOJA –
Roraima é um oásis da produção convencional de soja no país. O único comprador regional, a Aliança Agrícola do Cerrado S.A, uma filial da empresa russa Sodrugestivo, escolheu comprar apenas grãos não modificados geneticamente, pelos quais os produtores ganham prêmios, o que não acontece na maior parte das regiões produtoras do país. Enquanto no Rio Grande do Sul, o preço da saca de soja de 60 quilos gira em torno de R$ 66,00, em Roraima o valor atingiu R$ 70,00 em meados de setembro. O preço da soja acima da média nacional se deve a uma vantagem competitiva: a da logística. Saindo da região produtora,situada no raio de 100 quilômetros da capital Boa Vista, a oleaginosa é transportada por 700 km até o porto de Itacoatiara, a 270 quilômetros de Manaus. Dali é enviado para diferentes destinos por via marítima.