DOUTOR FRANCISCO ELESBÃO
Pronto Socorro – o médico do povo
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Francisco Elesbão da Silva, médico baiano, filho de família pobre, seu pai era um pescador. Com sacrifício financeiro conseguiu formar-se em Medicina e especializou-se em Tisiologia, que é um ramo da medicina responsável pelo estudo das causas, prevenção e tratamento da Tuberculose. Esta doença transmissível é causada pelo Mycobacterium tuberculosis, também conhecido por bacilo de Koch, que afeta os pulmões, mas também pode atingir outros órgãos e sistemas (provocando a tuberculose extrapulmonar).
Antigamente, a tuberculose era uma doença tão estigmatizada, quanto a AIDS, já foi um dia. Havia um forte preconceito sobre quem fosse portador. Os doentes eram isolados em quartos separados e depois enviados para os “Sanatórios”, como eram chamados os hospitais adaptados para receber os pacientes. A expectativa de vida do doente era curta.
O poeta baiano Castro Alves, em um dos seus versos, escreveu: “Eu sei que vou morrer… dentro do meu peito um mal terrível me devora a vida. Sou um Vivo – que vaga entre o chão dos mortos; e um Morto – entre os vivos a vagar na Terra.” Ele morreu de tuberculose aos 24 anos de idade, em 1871.
Hoje, a Tuberculose tem cura por meio da associação de medicamentos quimioterápicos. O tratamento (de seis meses) é gratuito e oferecido pelo SUS.
O personagem de hoje, o Dr. Francisco Elesbão da Silva, era um médico especialista no tratamento da Tuberculose e de outras doenças pulmonares. Ele dedicou muitos anos de sua experiência médica em cuidar da saúde das pessoas, de forma gratuita, principalmente àquelas que não tinham condição financeira de pagar por um tratamento numa clínica particular. Aliás, ele nunca teve e nunca quis trabalhar numa clínica particular. Todo o seu atendimento se dava nos hospitais públicos. Era um médico do povo a serviço do povo.
Elesbão formou-se em 1950 e começou a trabalhar como médico na Companhia de Navegação da Bahia, onde atendia diariamente os trabalhadores da empresa. Em 1952, recebeu um convite do médico, também baiano, Dr. Reinaldo Neves, que já estava em Boa Vista e trabalhava na Divisão de Saúde do Governo do Território Federal do Rio Branco. O convite foi transmitido pelo pai do Dr. Reinaldo Neves, o senhor Antônio Branquinho.
Francisco Elesbão, ao chegar a Boa Vista, foi contratado para trabalhar na Divisão de Saúde, situada è época numa casa na Praça Fábio Barreto Leite (próxima a hoje Orla Taumanan). No final de novembro de 1952, a Divisão de Saúde foi transferida para uma das salas do prédio onde hoje está o Tribunal de Justiça (prédio azul) ao lado da Assembleia Legislativa. Na Divisão de Saúde funcionava também o primeiro Laboratório público de Análises Clínicas, sob a supervisão do técnico em enfermagem Oscar Martins dos Santos.
O único hospital, à época, era o Hospital Nossa Senhora de Fátima (hoje extinto), situado ao lado da Igreja Matriz. A situação do hospital era precária e sem equipamentos clínicos modernos que ajudassem na detecção de determinadas doenças. O único aparelho de Raio-X passou muito tempo guardado numa sala, encostado na parede, devido não haver profissional especializado para manusear a máquina. E, só voltou a funcionar quando o próprio médico Francisco Elesbão, lendo o manual, conseguiu pô-lo prá funcionar outra vez.
Quanto ao Hospital Coronel Mota, a construção foi iniciada no final de 1952, concluída a obra em 1957, mas o prédio só foi inaugurado em 1965 no Governo de Dilermando Cunha da Rocha.
Os médicos Francisco Elesbão e Sylvio Lofêgo Botelho formaram uma eficiente parceria no atendimento público. Eles atuaram no Hospital Nossa Senhora de Fátima, Coronel Mota e na DAMI – Divisão de Assistência à Maternidade e à Infância (onde hoje está Secretaria Estadual de Planejamento – Seplan) na Rua Coronel Pinto, Centro. Eles faziam quase tudo, desde a realização de Partos e outras cirurgias mais complexas, até mesmo atendimento nas residências (e, sem cobrar nada).
Esta parceria profissional e de forte laço de amizade, resultou na dupla política: “Café com Leite”, O Elesbão, negro; e o Silvio Botelho, branco. Assim, nas eleições de 1963, para ocupar o único cargo de Deputado Federal, a dupla concorreu enfrentando o forte candidato e governador do Amazonas, Gilberto Mestrinho de Medeiros Raposo – que, à época, era casado com a roraimense Lely Adna da Silva Mota (filha do casal Rogério da Silva Mota e Edviges Oliveira Mota). Gilberto Mestrinho foi eleito para a legislatura de 1964 a 1967, mas ainda em abril de 1964 teve o seu mandato político cassado pelo Governo militar. Assumiu o seu suplente, Felix Valois de Araújo, mas também foi cassado.
Em 1965 houve novamente eleição para deputado federal, e novamente a dupla “Elesbão, suplente Sylvio Botelho” concorreu, enfrentando a candidatura de Atlas Brasil Castanhede, que era apoiado pelo governador Dilermando Cunha da Rocha.. Venceu o Dr. Elesbão, pelo PSD, eleito com 2.871 votos. Elesbão foi Deputado Federal no período de junho de 1965 a janeiro de 1967.
Em outubro de 1966, Elesbão concorreu a sua reeleição, tendo como suplente Olavo Brasil, enfrentando novamente o Atlas Catanhede (o suplente do Atlas era o Ubirajara Pinho). Venceu o Atlas Catanhede, mas em 1968 teve o seu mandato cassado. Então o Território Federal de Roraima ficou dois anos sem um representante na Câmara Federal, até que em 1970, sem concorrentes, o médico Sylvio Lofêgo Botelho foi eleito deputado federal.
Francisco Elesbão, quando deputado federal em 1965/67, levou a família para morar em Brasília. Mas, semanalmente vinha à Boa Vista, para atender os seus eleitores. Os seus amigos o chamavam de: “Bambão”, um apelido que ele acostumou-se.
Após o término do seu mandato, permaneceu em Brasília onde foi convidado para trabalhar como médico no Ministério de Minas e Energia e, depois, por mais de 15 anos trabalhou no Hospital Regional do Gama, que é referência nacional no tratamento de Tuberculose. Foi nesta época, e graças à equipe médica do Hospital do Gama, a Tuberculose, como epidemia, foi erradicada do Brasil. Hoje, aparecem casos isolados e, imediatamente curados com quimioterapia. O Dr. Elesbão também trabalhou no Centro de Saúde – Unidade Mista da Asa Sul, em Brasília.
O Dr. Francisco Elesbão casou em 1954 com a roraimense Manoelina de Jesus Lima (“dona Santinha”). O casal teve os filhos: Antônio Elesbão, Francisco, Alzira, Eurico, Paulo, Petrus, e Mário Elesbão (todos com sobrenome “Lima da Silva”). Deles descendem 12 netos.
Já doente, o Dr. Elesbão resolveu vir morar em definitivo em Boa Vista, na sua antiga residência na Rua Alfredo Cruz, esquina com a Avenida Getúlio Vargas, cuja propriedade do imóvel hoje pertence ao senhor Domício, casado com a senhora Fátima (irmã de dona “S
antinha”, esposa do Elesbão).
O Dr. Elesbão foi homenageado ainda em vida pelo então Governador Ottomar de Sousa Pinto, que denominou o prédio onde se presta os primeiros socorros em casos de acidentes e de outras ocorrências, com o nome de: “Pronto Socorro Estadual Dr. Francisco Elesbão” (situado ao lado do Hospital Geral-HGR). Um ano depois o Dr. Francisco Elesbão da Silva faleceu em Boa Vista (às 12h20 do dia 12/09/2001, aos 79 anos de idade). O seu corpo foi velado na Igreja Matriz de Nossa Senhora do Carmo.
Em 2010, a Assembleia Legislativa o homenageou “in memoriam” com o Título de: “Orgulho de Roraima”.