BOA VISTA – TRANSFORMAÇÕES URBANAS
Escrever sobre a história de Boa Vista não é tarefa das mais fáceis. O acesso à documentação histórica sobre Roraima é difícil, e em muitos casos, as fontes históricas são pouco elucidativas, uma vez que as narrativas dos visitantes e exploradores que percorreram o vale do rio Branco não fazem longas menções a Boa Vista. E, ainda há registros contraditórios do que se imaginava haver com o que realmente havia na então Vila, depois Freguesia e, por fim, Município de Boa Vista (de Nossa Senhora do Carmo do rio Branco).
De acordo com o Inventário do Patrimônio Cultural de Boa Vista, em 1692 a Câmara de Belém fez uma petição ao Rei de Portugal (Pedro II) para que colocasse missionários no vale do rio Branco.
Há documentação registrando que em 1725 os Padres da Ordem dos Carmelitas chegaram ao Rio Branco, acima da Cachoeira e que eles implantaram várias “Missões” ao longo do rio. Em Boa Vista, construíram a atual Igreja Matriz, situada às margens do rio Branco. Inicialmente a Capela (como era chamada) foi feita de madeira – recoberta com terracota (que é uma espécie de argila cozida no forno e utilizada em construção de casas).
Em 1775, o ouvidor da capitania de São José do Rio Negro, Ribeiro Sampaio descreveu: “Na margem ocidental do rio Branco se encontra a missão Nossa Senhora do Carmo, com 118 almas (pessoas)”.
Em 1787, o militar e geógrafo português Manuel da Gama Lôbo D’Almada, na sua descrição relativa ao vale do rio Branco e seu território, informou: “Na povoação do Carmo no Rio Branco (hoje a cidade de Boa Vista), existe uma Capela (Igreja), 16 fogos (Arcabuzes e Canhões) e um vigário (padre) que assiste as 215 almas” (215 pessoas).
Em 1856, a Vila do Rio Branco foi elevada à condição de Freguesia. E, em 1858 a pequena capela foi elevada à condição de Igreja Matriz. Esta foi (e é) o primeiro templo religioso de Boa Vista e sofreu muitas reformas em sua estrutura física, ora adotando uma arquitetura germânica, e mais a frente – de acordo com a Ordem religiosa existente – uma forma italiana e, atualmente, retornando ao princípio das características da arquitetura alemã, com a chegada da Ordem dos Padres Beneditinos em 1907.
Em 1881, o escritor, etnógrafo e fotógrafo, ErmannoStradelli, em suas anotações “Rio Branco, nota de viagem”, no volume 7 do livro, nas páginas 21 a 44, registrou que em Boa Vista, no ano de 1881, havia duas casas. E, em 1889 (ano da Proclamação da República: 15/11/1889), ele anotou que já eram 25 casas, entre as quais uma de pedra, e uma igreja também de pedra, cuja construção foi realizada por particulares sem ajuda da Província do Amazonas.
O explorador americano Alexandre Hamilton Rice (1875 – 1956), quando esteve em Boa Vista em 1924, registrou que: “Boa Vista era o único agrupamento junto ao rio (Branco) que tem a honra de ser chamada de “Vila”. Este aglomerado era composto de 164 casas, que abrigavam uma população de 1.200 almas (pessoas). Alguns destes prédios são de tijolos: a Igreja Matriz, a Intendência (nome da antiga Prefeitura), algumas casas de moradia e o Armazém, também eram feitos de tijolos. Já a maioria das casas era feita de reboco e pau-a-pique”.
A escritora Nenê Macaggi, em seu Livro: “A mulher do Garimpo–Romance do Extremo sertão Norte do Amazonas”, publicado em 1976, na página nº 110, descreveu a Boa Vista do seu tempo:
“Boa Vista era um Vilarejo até 1926, pequenina e triste (…) muito espalhada, com poucas casas de alvenaria e inúmeras de taipa, cobertas de palhas de buriti ou inajá. Sem árvores, sem praças, e sem flores. Prédios velhos e feios. Quintais abertos e abandonados, sem uma horta ou jardinzinho. Só um bangalô, à distância, embelezando a paisagem. Nenhum grupo escolar, sendo raras as suas escolas regidas por professores primários. Sem Cais, e as margens do rio terríveis para a atracação das embarcações. Ruas estreitas e barrentas e, no centro da cidade, um coreto coberto de palha. Nenhuma indústria. Comércio regular e população igual à população das cidades interioranas: Curiosa, maledicente, hospitaleira, alegre e amiga de festas e piqueniques”.
Em 1933, o escritor inglês Arthur Evelyn St. John Waugh (1903-1966) permaneceu em Boa Vista durante 21 dias e escreveu em seu diário: “Havia a rua central pela qual nós chegamos; depois a estradas sumiam aos poucos, se transformando em vagarosos caminhos. As casas caiadas, cobertas de telha, de um só andar, eram enfileiradas de um lado e do outro da rua. Na porta de cada casa estavam sentadas uma ou mais pessoas que nos fitavam com os olhos arrogantes, hostis e indiferentes; algumas crianças nuas corriam de um lado para outro da rua”.
Em setembro de 1944, já como Território Federal do Rio Branco, o governador Ene Garcez dos Reis contratou a empresa “Riobras Industrial Ltda” do engenheiro civil Darcy Aleixo Derenusson, e a este coube à missão de elaborar e executar o projeto de urbanização de Boa Vista, com as ruas em forma de leque, a partir do centro cívico.
Temos o caso do Beiral, uma das áreas mais antigas de Boa Vista, criada pela Lei Municipal nº 1.117. O prefeito, à época, Olavo Brasil, denominou de Bairro “Caetano Filho” (comerciante do local, morto em 1958).
O Beiral, hoje, praticamente não mais existe. A Prefeitura comprou toda a área, indenizou os moradores e, no local, está sendo construído o “Parque Rio Branco”, que será a maior obra urbanística de Boa Vista. A ordem de serviço começou em 08 de junho de 2018, e o início das obras em 12 de junho, com previsão de finalização agora no final de 2020.