J. G. ARAÚJO
Joaquim Gonçalves de Araújo
O magnata de Manaus e sua influência em Roraima
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A riqueza vivida pela Amazônia no período áureo da borracha respondeu pelo desenvolvimento urbano, econômico e cultural de Belém e de Manaus, com reflexo no vale do rio Branco (Roraima).
O auge do ciclo da borracha aconteceu entre os anos de 1879 – 1912 – 1920, tendo ainda, uma boa sobrevida entre os anos de 1939 e 1945, no decorrer da Segunda Guerra Mundial.
O comendador português Joaquim Gonçalves de Araújo foi uma das figuras mais proeminentes dessa fase áurea e o mais poderoso comerciante de Manaus, cujo império econômico percorreu os quatro cantos da Amazônia.
Em Boa Vista, na esquina da Rua Floriano Peixoto com a Avenida Jaime Brasil, no Centro da cidade, há uma casa comercial que é parte da história dessa época. Esta Loja já teve vários nomes: “Armazéns Rosas”, “Filial”, “Casa Bandeirante” e “Esquina do Rio”. Foi construída em 1898 e servia de moradia de famílias.
No início dos anos 1920 era a residência do senhor Homero Sapará de Souza Cruz, e por ser a casa muito grande, foi dividida em residência e comércio. Na parte da frente funcionava o “Comércio Rosas& Cruz”, tendo como proprietários o português Joaquim Gonçalves de Araújo (J.G. de Araújo) em sociedade com o roraimense Homero de Souza Cruz.
Desfeita a sociedade, a casa passou a ser exclusivamente um estabelecimento comercial, com o nome de “FILIAL”, de propriedade de J.G. de Araújo.
Por muitos anos, principalmente nas décadas de 20 a 40, foi o principal ponto comercial de Boa Vista. Ali, vendiam-se ferramentas, tecidos, estivas, calçados, perfumes, até produtos importados.
E, por se tratar de uma filial da rica e poderosa empresa amazonense de J.G.Araujo& Cia, tornou-se lugar comum para quem precisasse de um empréstimo, ou guardar dinheiro, depositar apurado de diamante e ouro, financiamento para agricultura, compra de gado, ou para algum empreendimento no garimpo, recorrer à gerência da Loja “Filial”. Pode-se dizer que era uma espécie de “Banco” de crédito.
Alguns fazendeiros compravam e vendiam gado sob o financiamento da firma J.G. Araújo. E, quando não tinham condições de saldar a dívida, parte do rebanho era retomada pelo representante da empresa em Boa Vista, na época da “ferra” do gado – quando as reses eram contadas e marcadas a ferro.
Aqui tinha muito gado. Para que se tenha idéia, no ano de 1904a Intendência de Boa Vista (a Prefeitura da época), para regularizar a cobrança de impostos aos pecuaristas, criou um documento intitulado “Coleta dos gados das fazendas do Rio Branco” e, em apenas 142 fazendas visitadas, foram registradas 93.835 cabeças de gado bovino; 3.161 eqüinos (cavalos e muares); e 2.132 ovinos (cabras, ovelhas, etc.). Nessa vistoria foi omitida a Fazenda Nacional de São Marcos que, na época, possuía apenas 3.000 cabeças de gado bovino.
Estes dados foram extraídos do livro “História da Livre Iniciativa – no desenvolvimento socioeconômico do Estado de Roraima”, do escritor Adair J. Santos,- FECOMÉRCIO-RR, 2004, à Pág. 42.
A empresa J.G. Araújo tinha sua sede em Manaus, à Rua Marechal Deodoro c/Avenida Eduardo Ribeiro, e foi fundada em 14 de fevereiro de 1877, pelos sóciosAntonio Araújo Rosas e Joaquim Gonçalves de Araújo, sob a denominação de Araújo & Rosas, depois “Araújo Rosas & Cia”, e, em 1904, com a união das famílias dos irmãos, nasceu a “J.G.Araujo& Cia”.
Na década de 1920 a firma J.G. Araújo tornou-se a principal financiadora da borracha na Amazônia, além de líder no comércio de estivas, ferragens, armazéns, panificação, distribuição de combustíveis, criação de gado, cultura de juta e outros.
Em Roraima, a empresa amazonense “J.G.Araujo& Cia” possuía 30 mil cabeças de gado e 200 mil hectares de terra.. A atividade comercial-financeira da firma J.G. Araújo estava centrada na casa “Filial”, na Avenida Jaime Brasil. Um dos seus gerentes foi o senhor Antonio Augusto Martins, que viria a ser, em 1946, o primeiro deputado federal pelo Território Federal do Rio Branco e hoje é o nome do prédio da Assembleia Legislativa de Roraima (Palácio Deputado Antonio Augusto Martins).
Joaquim Gonçalves de Araújo (J.G.Araújo) nasceu no dia 14/02/1860, veio para o Brasil em 26/10/1871 e faleceu em Lisboa, Portugal, no dia 21/03/1940, aos 79 anos de idade.
Os Armazéns “Rosas” de “J.G.Araujo& Cia”, em Manaus, persistiu até 27 de setembro de 1990, quando sofreu um trágico e misterioso incêndio, cerrando definitivamente as portas.
Mais triste ainda é saber que todo o poderio econômico e financeiro da família de J.G. de Araujo, riquezas que se espalhavam por toda a Amazônia, hoje se resume numa casa que foi residência da família, na Rua Costa Azevedo, defronte ao Teatro Amazonas, em Manaus. O imóvel passou a ser um espaço cultural vinculado à Secretaria de Cultura do Estado do Amazonas.