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TRIBUTO AO EX-GOVERNADOR OTTOMAR DE SOUSA PINTO (19/01/1930 – 11/12/2007)

Certamente não são as palavras que irão traduzir os nossos sentimentos de saudade e apreço pelo ex-governador (aliás, o primeiro Governador do Estado de Roraima), o brigadeiro-do-Ar (Oficial superior da Aeronáutica), Ottomar de Sousa Pinto.  E, não é preciso que juntemos belas frases, ou que recorramos aos mais coloridos ornatos da linguagem para expressar estes sentimentos que nos ocorrem.

Para entender a trajetória política de Ottomar Pinto, se faz necessário recuarmos a partir do ano de sua chegada à Boa Vista, em 1979, quando era ainda o Território Federal de Roraima.

Em Boa Vista, o que se via era uma realidade política de subordinação administrativa à União; interesses locais conflitavam com os do Governo Federal. O tema central entre esses “grupos locais” e a União, sempre foi a Questão Agrária. No caso de Roraima, potencializado ainda mais pelo elemento indígena e a Igreja Católica.

Os governadores dos territórios eram nomeados por uma das três Armas (Exército, Marinha e Aeronáutica), no caso de Roraima, essa responsabilidade estava a cargo da Aeronáutica.

Com o término do mandato do governador e coronel Fernando Ramos Pereira, assumiu o governo de Roraima o Brigadeiro da Aeronáutica Ottomar de Souza Pinto, o qual tratou de administrar dentro do novo quadro político nacional, contrastando desde o início o modo de governar com o de seu antecessor.     

Com o previsível fim do “período de governo militar”, que iniciou em 1964 (e, terminou em 1985), os grupos políticos de Boa Vista estavam motivados com a possibilidade da tomada do poder político local. Esses “grupos” oligárquicos, constituídos de fazendeiros, famílias tradicionais e de políticos da velha guarda, se consideravam representantes de uma elite que vinha sendo construída no Território desde a sua ruptura política-administrativa com o Estado do Amazonas em 13 de setembro de 1943 (quando da criação do Território Federal do Rio Branco).

Quando Ottomar Pinto chegou para assumir o governo em 1979, tratou de pacificar os ânimos entre os grupos dominantes locais, divididos entre os que ainda apoiavam o ex-governador Fernando Ramos Pereira, representando a minoria, e as outras lideranças, membros das chamadas “famílias tradicionais” (Magalhães, Brasil, Cruz, Mota, Cavalcanti, Duarte, entre outras).

Ottomar Pinto formou um secretariado tendo por base os representantes destas famílias. Participaram do novo governo, por exemplo, Getúlio Alberto de Souza Cruz (que posteriormente assumiria o Governo do Território), Mozarildo Cavalcanti e Francisco das Chagas Duarte, todos roraimenses e ex-estudantes em Belém, no Pará, que, em suas épocas de estudantes eram patrocinados pelos governos anteriores. Os três ganharam projeção como Administradores e como líderes políticos.

No final da década dos anos 70, a população de Roraima, segundo estatísticas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE – era de aproximadamente 80 mil habitantes, o que poderia ser traduzido como um panorama em que o governo que nascia não tinha ainda uma liderança consolidada com a sociedade local, por isso, precisava urgentemente criar novas bases eleitorais para se estabelecer politicamente.

O governador Ottomar Pinto, neste seu primeiro governo (1979-1983), atravessou algumas crises políticas. Teve que demitir o Prefeito da Capital e houve conflito na instalação do PDS (Partido Democrático Social, que substituiu a Arena), à época, partido de apoio ao Governo Federal. 

Embora elegesse os quatro Deputados Federais do Território, o partido dividiu-se em “ala do governador” e “ala nativista” (os “filhos da terra”).  As lideranças locais teriam também ficadas chocadas com o novo estilo de governo de Ottomar Pinto, haja vista que houve nessa época um crescente fluxo de imigrantes que reforçava o contingente eleitoral e a liderança do governador Ottomar Pinto. Para as lideranças locais isto representava o preenchimento de suas vagas e a escapatória de oportunidades dos cargos almejados.

A conjuntura política, econômica e social do Território Federal de Roraima no ano de 1979, apresentava as seguintes preocupações e prioridades para o governo de Ottomar Pinto: a questão fundiária, a precariedade das rodovias federais e estaduais, a urgente modernização do setor público, ausência de políticas públicas planejadas, investimentos na indústria e pecuária, migração, mineração, a questão indígena, entre outros temas, além do aspecto político vigente à época.

Ottomar, entre um seu governo e outro, foi deputado federal e Prefeito de Boa Vista. Seu desempenho sempre se caracterizou por um estilo particular de fazer política. Era centralizador no comando de governo e não costumava dividir o poder de decisão.

No entanto, por suas ações sociais, com atendimento presente na entrega de benefícios populares, foi considerado o “pai dos pobres” e “amigos dos idosos”. Em seu governo aconteceu o maior número de chegada de imigrantes a Roraima, principalmente do Nordeste brasileiro, em particular do Maranhão. Para acomodar tanta gente, Ottomar Pinto construiu conjuntos populares, os quais foram chamados por seus adversários de “Pintolândia”, uma alusão ao sobrenome “Pinto” de Ottomar.

Mas, independente do que os adversários possam dizer, o certo é que nunca houve na história do Território e, até agora, deste Estado, um governador tão trabalhador, tão dinâmico, tão carismático e tão querido pelo povo. Ele e a primeira-dama e ex-senadora Marluce Moreira Pinto, formaram o casal-símbolo da política roraimense.

No dia 11 de dezembro de 2007, Ottomar Pinto estava em Brasília onde teria um encontro agendado com o Presidente Inácio Lula da Silva, para tratar da questão da transferência das terras, ora pertencentes à União, para o Estado de Roraima.

Quando estava no hotel sentiu-se mal (ele sofria de diabete e, por diversas vezes foi internado), e foi levado às pressas para o Instituto do Coração, em Brasília. Mas, mesmo tendo recebido atendimento médico de urgência, não resistiu e faleceu.

O corpo veio em um avião da Força Aérea Brasileira, sendo velado, primeiramente, no saguão do Palácio Senador Hélio Campos – sede do Governo – e depois à visitação pública no Ginásio de Esporte “Totozão” – construído por ele.

Milhares de pessoas o visitaram e fizeram questão de tocá-lo.

O enterro aconteceu na tarde do dia 13 de dezembro, tendo antes o féretro passado em várias ruas, Bairros e locais onde ele construiu as grandes obras. O povo, a
o longo do trajeto do cortejo fúnebre, aplaudia à sua passagem.

Foi o fim de uma era política como nenhuma outra igual.

Créditos das Fotos: Alfredo Maia, Antonio Diniz e Elcimar Bento.