SEBASTIÃO PAULINO DE LIMA – 103 anos
Um roraimense na 2ª Guerra Mundial
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“Si vis pacem, para bellum” é um provérbio em latim e pode ser traduzido como “Se quer Paz, prepare-se para a Guerra”, cujo sentido é que, para evitar ser atacado, o melhor meio é fazer os necessários preparativos de defesa. Sebastião Paulino de Lima nasceu em 1919, no dia 20 de Janeiro (Dia de São Sebastião, daí o seu primeiro nome), na fazenda Santa Adelaide na beira do Igarapé Truarú, atualmente Projeto de Assentamento (PA) Nova Amazônia. É filho de José Paulino de Lima e Sebastiana Jaricuna de Lima.
O roraimense da etnia Taurepang, Sebastião Paulino, alistou-se no Exército quando tinha apenas 17 anos de idade. Ele alterou a data do seu nascimento, para parecer que tinha 18 anos, tanto era a vontade de servir à Pátria, como militar.
Em 1945 foi convocado para se juntar às tropas da Força Expedicionária Brasileira – FEB, sob o comando do General brasileiro Macarenhas de Moraes (1883 – 1968). O Tenente Paulino participou dos combates à resistência do Exército Alemão na Tomada de Montese e de Monte Castello (1945), na Itália.
História Em Manaus serviu no ano de 1941. Ao final de 1942 passou a servir no pelotão do Exército sediado no Município amazonense Japurá, na fronteira do Brasil com a Colômbia. Em 1944 foi convocado para a Guerra, onde participou como segundo sargento. Na verdade, ele tinha 17 anos quando ingressou no Exército. “Alterei minha idade pelo amor à Pátria. Queria servir como voluntário”, disse, ao lembrar que à época além da idade, o peso não contribuía. “Eu também estava abaixo do peso e mesmo assim me prontifiquei a ser voluntário”.
Sebastião Paulino embarcou para Itália com outros cinco mil homens. Foram 16 dias de viagem pelos oceanos. “Quando aportamos na Itália, não me assustei com a situação. Tinha muitos flagelados. Pessoas famintas e cheguei a dar minha refeição que estava reservada para três dias por causa da cena que vi”, disse, ao relatar que fora a única ordem que descumpriu, uma vez que a determinação era os soldados, em hipótese alguma, dar os enlatados para os pobres que iam pedir no porto.
Depois de aportar na Itália, seguiu de navio para a cidade de Livorno, 24 horas de viagem. O batalhão já estava disperso. Parte dos homens tinha ficado na primeira parada no país da guerra. Lá, Sebastião Paulino sentiu medo. “Foi minha única sensação de medo. Vi toda cidade destruída por causa dos bombardeios. Foi quando eu vi o que era a guerra”, frisou.
Na guerra passou 11 meses. Participou efetivamente, de patrulhas de reconhecimento, um dos serviços mais arriscados da guerra, onde os militares tinham que reconhecer o território do inimigo. Sebastião Paulino atuava na linha de frente. Foi no reconhecimento de área que viu um de seus amigos ser atingido pelo “inimigo”. Sebastião Paulino recordou a cena e disse que se protegeu atrás de uma oliveira para não ter o mesmo destino. “Foi na guerra que aprendi a lutar, viver e amar o próximo. Foi a faculdade da minha vida”, afirmou.
“Aprendi a ter responsabilidade naquele momento. Pensava na minha Pátria, na defesa de um povo”, disse, ao lembrar que em todo o período de guerra, não tinha notícias da família ou do Brasil.
Durante todo o período que esteve na guerra, até mesmo nos grupos de frente, Sebastião Paulino não teve nenhum ferimento. De lembrança, ele tem apenas algumas tatuagens que representavam alguma linguagem militar. Ele acha que o ato de solidariedade que teve ao chegar à guerra garantiu sua sobrevivência no combate.
Quando retornou ao Brasil, Sebastião Paulino teve a sensação de dever cumprido. “Tive a certeza da missão cumprida”, reforçou.
Ao chegar à Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, o grupo de militares foi homenageado por regatas de clubes esportivos, além do assédio da imprensa.
No Rio de Janeiro, Sebastião Paulino ficou um mês, onde se casou com uma carioca com quem viveu seis anos de sua vida. Não tiveram filhos. Ele a trouxe para o ex-Território Federal de Roraima, onde viveram juntos. Mas, tempos depois, a esposa não se adaptou ao clima e situação precária de Boa Vista, à época, e retornou para o Rio de Janeiro.
O Tenente Sebastião Paulino foi convidado para fazer parte do Quadro da Guarda Territorial. Além disto, foi nomeado Delegado de Polícia e designado para o interior do Território.
O ABALO PSICOLÓGICO
O patriotismo teve um preço para Sebastião Paulino. Ao voltar da guerra, se sentiu totalmente abalado psicologicamente. Ao ser indagado sobre o motivo do abalo psicológico, ele falou que tudo está atrelado ao fato da “morte coletiva”. De todo o período de guerra, ele lembra somente de uma morte individual, que foi justamente a do inimigo que atirou em seu amigo. “Sempre que tinha morte, era de grupos de militares contra outros e não um matando o outro individualmente”, lembrou. “Tínhamos que eliminar todo o grupo”, complementou Sebastião Paulino.
Mas a guerra teve o lado “bom”. Segundo ele, durante o período de combate fez várias amizades com italianos. Hoje, evangélico e casado é pai de oito filhos. Casou-se com Maria Lopes de Lima, mais conhecida como Conceição, aos 30 anos de idade. Tudo aconteceu no ano de 1954, dois anos depois da separação com a primeira mulher. Com dona Conceição além de ter tido oito filhos, conheceu o Evangelho, pelo fato dela ser filha de pastor da igreja Assembleia de Deus. Hoje tem 18 netos e 11 bisnetos.
Sebastião Paulino agora é pastor auxiliar da Assembleia de Deus. Sua rotina era a de pregar o evangelho, levar conselhos aos mais necessitados e dar assistências com doação de cestas básicas para famílias carentes. “Fazia isso por uma questão pessoal”.
O Tenente Paulino, quando em solenidade militar, sua presença é saudada pelo Corneteiro com o Toque de Pracinha, que são os primeiros acordes da “Canção do Expedicionário”.
♪♫ “Você sabe de onde eu venho? Venho do morro / do Engenho//. Das selvas / dos cafezais / Da boa terra do coco / Da choupana onde um é pouco / Dois é bom, três é demais //. Venho das praias sedosas / Das montanhas alterosas / Dos pampas / do seringal / Das margens crespas dos rios / Dos verdes mares bravios / Da minha terra natal”. ♪♫
♪♫ “Por mais terras que eu percorra / Não permita Deus que eu morra / Sem que volte para lá / Sem que leve por divisa / Esse “V” que simboliza / A vitória que virá //. Nossa vitória final / Que é a mira do meu fuzil / A ração do meu bornal / A água do meu cantil / As asas do meu ideal / A glória do meu Brasil”. ♪♫.
O Tenente Sebastião Paulino de Lima está vivo e ontem, dia 20 de janeiro, completou 103 anos de idade. Ele reside à Rua Almerindo dos Santos, no Bairro Buritis.
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