MINHA RUA FALA

MINHA RUA FALA

A personagem desta   quarta-feira (15) é uma referência à história de Boa Vista. Delzuita foi daquelas mulheres de fibra que a história de sua vida serve como exemplo às novas gerações.

RUA DELZUITA MUTRAN PARACAT

A rua que dá acesso ao Iate Clube – Bairro Caçari.

A personagem desta   quarta-feira (15) é uma referência à história de Boa Vista. Delzuita foi daquelas mulheres de fibra que a história de sua vida serve como exemplo às novas gerações.

Delzuita Mutran Paracat foi comerciante, mãe de oito filhos, dona de pensão (restaurante doméstico) e pioneira na venda de kibe e de outras comidas árabes.

Mas, contando assim, tão de repente, não dá a dimensão da grandiosidade da natureza da dona Delzuita.

Portanto, se faz necessário recuar no tempo e partir do principio: Ela nasceu no dia 28/09/1909, em São Luiz do Maranhão. Descendente de sírios, Delzuita era filha de Aziz Mutran e de Marriba Mutran. O pai era um próspero comerciante e fazendeiro que quis ampliar seus negócios investindo em castanhal e em fazenda de gado no município de Marabá, no Pará, para onde se mudou com a família.

Atendendo a um pedido do seu pai Aziz, ela casou com um sírio o senhor Nagib Paracat. Mesmo ele sendo viúvo e já com uma filha (Nadir), o casamento aconteceu lá mesmo em Marabá.  Dessa união nasceram 7 filhos: Antonio, Elza, Júlia, Hiran, Lourdes, Hiramita e Valdemar, todos com o sobrenome Paracat.

Como o serviço era pouco na região de Marabá, Nagib resolveu vir para Boa Vista, à época Território Federal do Rio Branco, pois tinha sabido que havia por aqui muitos diamantes na Serra do Tepequém. Deixou a família em Marabá e veio apenas com a filha Nadir Paracat (que posteriormente casou com o diamantário e ex-prefeito de Boa Vista Armênio Santos) recebendo apoio imediato do Senhor Said Samou Salomão.

Nagib foi para o garimpo, ganhou algum dinheiro e retornou à Marabá para buscar a família. Na volta à Boa Vista, levou a mulher e os filhos para o Tepequém, no Amajari, onde dona Delzuita, por seis anos, vendia comida para os garimpeiros, na localidade de nome Cabo Sobral. Com a venda do grotão de diamante feito pelo senhor Leontino a uns estrangeiros, a família se viu obrigada a retornar a Boa Vista.

Começaram as primeiras dificuldades. Dinheiro pouco, sem serviço na cidade, a dona Delzuita com o marido, alugaram um pequeno espaço atrás da casa comercial do senhor Léo (uma casa antiga, que existia ao lado da Loja das Casas Liras, em frente ao Bradesco, na Avenida Jaime Brasil). Ali atrás, através de um pequeno beco, tinha-se acesso a “Pensão da Garimpeira” e a alguns quartos de aluguel que dona Delzuita administrava. Mas os lucros foram poucos, o senhor Nagib Paracat retornou ao garimpo e dona Delzuita foi para Manaus tentar a sorte. Tempos depois o senhor Nagib adoeceu no garimpo e foi ao encontro da família em  Manaus. Mas, com a gravidade de sua doença, ele faleceu no dia 27/06/1953.

A viúva, Delzuita Paracat retornou a Boa Vista. E, devido à precariedade da situação financeira, dolorosamente teve que “espalhar” os filhos nas casas dos amigos, já que não tinha condição de alimentá-los. Alugou um pequeno espaço atrás do comércio do senhor Alemão, na Avenida Jaime Brasil, e voltou a fazer comida para vender, até que surgiu a oportunidade de alugar uma pequena casa na Rua Nossa Senhora da Consolata, esquina com a Rua Barão do Rio Branco, e passou a fornecer comida para o pessoal do aeroporto, FAB e à tripulação da Empresa Aérea Cruzeiro do Sul. Era a “Pensão da dona Paracat”.

Em 1958/59, com a grande seca que se abateu nesta região, os gêneros alimentícios eram trazidos em avião de Manaus, e dona Delzuita aproveitou para vender comida a toda população. Ganhou dinheiro e conseguiu mandar um dos seus filhos, o Valdemar Paracat, estudar em Manaus, onde se formou em Economia.

Os demais irmãos, parte comerciante, exercem as mais diversas atividades neste estado e participam efetivamente do desenvolvimento socioeconômico desta terra. A dona Delzuita faleceu no dia 19/08/1987.

Em homenagem à esta pioneira, a Câmara Municipal de Boa Vista, por iniciativa do vereador, à época, Paulo Magalhães Duarte, denominou uma rua com o nome de: “Rua Delzuita Mutran Paracat”. Esta rua nasce a partir da Avenida Ville Roy – no sentido Oeste/Leste, e finda diante do portão do Iate Clube, no Bairro Caçari.

A Lei que denomina a Rua Delzuita Mutran Paracat é a de nº 279, de 22/10/1992.

E, no dia 28 de setembro de 2018, a Prefeitura denominou o espaço do restaurante dentro do atual Mercado Municipal São Francisco, como “Espaço de gastronomia Delzuita Paracat”.

Há em Boa Vista, na Avenida Ene Garcez, a Praça Fábio Marques Paracat (jovem falecido em 15/02/2015, vítima de acidente de trânsito) bisneto de Delzuita Mutran Paracat.