Ao longo da vida, cada indivíduo constrói sua percepção de mundo com base em experiências acumuladas, crenças enraizadas e emoções predominantes. Esse repertório pessoal molda não apenas a maneira como enxergamos os acontecimentos ao nosso redor, mas também a forma como nos relacionamos com as pessoas e lidamos com desafios. Contudo, essa visão pessoal, por mais rica e fundamentada que pareça, nem sempre é abrangente ou imparcial. Aqui reside o perigo da miopia das intenções, um fenômeno em que nossa perspectiva limitada nos leva a crer que o que vemos é a única verdade possível.
Cada experiência vivida adiciona uma nova camada à nossa percepção, a nossa forma de ver o mundo. No entanto, ao invés de expandir nossa visão, muitas vezes essas experiências podem reforçar vieses já existentes. Alguém que se concentre constantemente no negativo, por exemplo, tende a criar um padrão mental de observação que privilegia falhas, defeitos e limitações. Esse comportamento gera um ciclo vicioso: ao enxergar apenas aspectos negativos, a pessoa confirma suas crenças e intensifica sua visão pessimista.
Esse viés negativo é comum em ambientes onde a crítica destrutiva predomina e onde os erros são encarados como sinônimos de fracasso. Assim, surgem indivíduos que transformam seu cotidiano — e o das pessoas ao redor — em um verdadeiro “muro das lamentações”. Nessas circunstâncias, a criatividade, a inovação e a motivação tornam-se escassas, enquanto o medo e a estagnação prosperam.
Por outro lado, pessoas com uma visão mais otimista e orientada para a melhoria conseguem transformar experiências, mesmo as adversas, em oportunidades de aprendizado. Essas pessoas, muitas vezes dotadas de uma gestão nata, enxergam falhas não como limitações, mas como pontos de partida para evoluir. Elas compreendem que o erro faz parte do processo de crescimento, seja no âmbito pessoal ou no profissional, e têm a habilidade de reconhecer e valorizar a iniciativa alheia.
Em contextos organizacionais, a miopia das intenções pode ser particularmente prejudicial. Um gestor que se fixa exclusivamente em problemas e falhas, ignorando conquistas e progressos, cria um ambiente de trabalho hostil e desmotivador. Sob essa liderança, colaboradores sentem-se desvalorizados, mesmo quando se esforçam para contribuir positivamente. O medo do erro gera imobilismo, e o potencial criativo da equipe é sufocado.
Por outro lado, um líder com visão ampla e empática é capaz de criar um espaço onde a experimentação e a inovação são incentivadas. Nesse tipo de ambiente, os erros são compreendidos como parte integrante do aprendizado. Um colaborador que comete um equívoco recebe feedback construtivo e é estimulado a tentar novamente, levando em conta as lições aprendidas. Tal abordagem não apenas fortalece a confiança individual, mas também fomenta um senso de pertencimento e colaboração entre os membros da equipe.
A diferença entre essas duas posturas pode ser ilustrada por um exemplo simples: ao observar um copo com água até a metade, uma pessoa pessimista o verá como “meio vazio”, enquanto outra, mais otimista, o considerará “meio cheio”. Embora essa metáfora seja amplamente conhecida, ela ilustra perfeitamente como a percepção individual molda a interpretação de uma mesma realidade.
Reconhecer o esforço e a iniciativa alheia é uma das ferramentas mais poderosas para superar a miopia das intenções. Quando líderes e gestores demonstram apreciação genuína pelos esforços de suas equipes, eles ajudam a construir uma cultura de confiança e respeito mútuo. Tal cultura não apenas promove o bem-estar emocional dos colaboradores, mas também incentiva a busca contínua por melhoria e inovação.
Além disso, a prática do reconhecimento pode transformar as relações interpessoais em qualquer contexto. Em famílias, amizades ou comunidades, valorizar as contribuições dos outros, em vez de focar exclusivamente em falhas, ajuda a fortalecer os laços e a criar um ambiente mais harmônico e colaborativo.
Devemos expandir a visão para além da miopia
Expandir nossa visão e evitar a miopia das intenções exige esforço consciente. Vamso ver algumas práticas que podem ajudar nesse processo:
- Autoconhecimento e Reflexão: Reconheça seus próprios vieses e tente entender como eles afetam sua visão de mundo. Pergunte a si mesmo: “Estou enxergando a situação de forma imparcial?” ou “Minha interpretação está sendo influenciada por experiências passadas?”
- Prática da Empatia: Coloque-se no lugar dos outros para compreender suas perspectivas. Isso ajuda a ampliar sua visão e a reduzir julgamentos precipitados.
- Foco na Solução: Em vez de se concentrar nos problemas, direcione sua energia para encontrar soluções e identificar oportunidades de melhoria.
- Valorização do Erro: Adote uma mentalidade de crescimento, na qual os erros são vistos como oportunidades de aprendizado e não como falhas definitivas.
- Reconhecimento e Gratidão: Agradeça e reconheça os esforços de quem está ao seu redor, mesmo que os resultados ainda não sejam perfeitos. Esse simples ato pode transformar completamente a dinâmica de um ambiente.
- Busca por Diversidade de Perspectivas: Procure interagir com pessoas de diferentes origens e pontos de vista. Isso ajudará a enriquecer sua compreensão do mundo e a desafiar suas próprias crenças.
A miopia das intenções não é inevitável. Embora seja natural que nossa visão de mundo seja influenciada por nossas experiências, é possível expandi-la e torná-la mais inclusiva. Para isso, é fundamental cultivar uma postura aberta, empática e orientada para o crescimento.
Ao nos libertarmos da limitação de uma visão exclusivamente negativa ou unilateral, abrimos espaço para novas possibilidades, tanto em nossas vidas pessoais quanto profissionais. Essa transformação exige esforço, mas os resultados valem muito a pena: ambientes mais colaborativos, relacionamentos mais saudáveis e, acima de tudo, uma vida com mais significado e propósito. Afinal, a maneira como escolhemos ver o mundo não apenas molda nossa realidade, mas também determina o impacto que teremos sobre os outros.
Por: Weber Negreiros
W.N Treinamento, Consultoria e Planejamento
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