Momento crucial ou apenas mais uma cena para se assistir comendo bolacha
Jessé Souza*
Para quem idealizou, um dia, passar a limpo a Assembleia Legislativa de Roraima, parece que esse momento pode estar chegando, tendo como limiar o processo de cassação do deputado Jalser Renier (Solidariedade), o ex-presidente da Casa que responde judicialmente a acusação de ser o mandante do sequestro e tortura de um jornalista.
Alegando inocência e que haveria um complô para cassá-lo, Renier foi bem claro ao afirmar que irá à desforra, denunciando todo e qualquer esquema que por ventura esteja oculto no Poder Legislativo. E há todos os motivos para acreditar que ele tenha condições de fazer isso, uma vez que o parlamentar foi o todo poderoso à frente da Mesa Diretora e conhece muito bem os meandros daquele poder que esteve sob seu comando desde 2015.
Mas, será que essa encruzilhada finalmente chegou? Tendo sido presidente por seguidos cinco anos, teria Jalser Renier coragem de desnudar os possíveis esquemas que por ventura existirem? Haveriam deputados com rabo preso para temer algo se a Casa for passada a limpo? As respostas agora estão nas mãos dos próprios deputados ao tomarem a decisão de cassar ou não Renier.
Os indicativos de que irá à desforra já foram dados pelo deputado que responde ao processo de cassação, sendo um deles a suposta prática de “rachadinha” (conhecida pelos roraimenses como “gafanhotagem”, pelo qual Renier chegou a cumprir pena, assim como ocorreu com o ex-governador Neudo Campos).
Só para refrescar a memória, o “esquema gafanhoto” foi aquele em que servidores estavam devolvendo parte do salário para parlamentares e autoridades de outros poderes. Esse esquema pode se configurar peculato, concussão, corrupção passiva e até organização criminosa.
O parlamentar ainda levantou suspeita sobre os R$ 40 milhões de crédito suplementar, o aumento da verba de gabinete e o aumento da folha de pagamento em 25% daquele poder! De bônus, o deputado afirmou ainda que irá à Justiça para cobrar informações sobre processos licitatórios em andamento naquela Casa.
Já que tudo isso foi jogado no ventilador, o fato merece explicação por si só, ainda que o deputado não chegue a cumprir suas palavras ditas no calor de um embate político. Especialmente, um posicionamento dos órgãos de controle, pois, afinal, não foi qualquer um que levantou suspeitas, mas um deputado que conhece a fundo a realidade do Legislativo roraimense.
Aproveitando esse momento crucial que está sendo criado diante dos fatos, a Justiça Eleitoral tem a obrigação de acelerar os processos contra parlamentares acusados de corrupção que ainda estão pendentes. Se é para moralizar, então que seja um processo completo, uma vez que está comprovado que o eleitor roraimense não tem condições de fazer isso apenas pelo exercício do voto, uma vez que ele está se vendendo por cesta básica.
Agora ou vai ou racha… ou o eleitor que acreditar nisso tudo vai continuar comendo bolacha…
*Colunista