Momento é de salvar vidas, e não discutir sobrevivência política
Jessé Souza*
Os últimos acontecimentos políticos estão indicando o rumo a ser tomado na disputa pelo Governo do Estado, nas próximas eleições, com o ex-senador Romero Jucá (MDB) e a ex-prefeita Teresa Surita (MDB) falando como porta-vozes da Prefeitura de Boa Vista em críticas abertas ao governador Antonio Denarium (sem partido), que partiu imediatamente para o contra-ataque.
A grande questão é: ainda estamos distante do pleito de 2022 e, neste exato momento, é a vida de todos que está em jogo por causa da pandemia do coronavírus. Não estamos em período eleitoral e o povo não deve aceitar a antecipação de qualquer campanha que não seja em favor da saúde da população.
Nenhum dos políticos que visam a disputa pelo governo, no próximo ano, está em condições de bater no peito e dizer que trabalharam pela saúde pública a fim de evitar o que estamos assistindo agora, diante da morte de pessoas que sucumbem a esse terrível vírus.
Esta coluna vem afirmando que, muito antes da crise migratória, portanto também muito antes do surgimento da Covid-19, a saúde pública municipal e estadual já viviam uma crise sistêmica, em que esses mesmos grupos tentavam jogar a culpa em seus adversários mutuamente, enquanto as pessoas morriam nos hospitais por falta de remédios e equipamentos, ou penavam na fila dos postos de saúde.
Os grupos políticos, se estivessem advogando em favor do povo, teriam anunciado uma trégua em suas picuinhas e já haviam montado um grande pacto em favor da saúde pública, assim que a pandemia encrudesceu, em favor da vida das pessoas.
Mas não. Eles se aboletaram em seus palanques eleitorais dos quais nunca desceram e, de suas bolhas virtuais, alimentam uma guerra de grupos enquanto a saúde entra em colapso e as pessoas morrem.
Besta é o povo que aceita esta conduta em um momento crítico como esse, fazendo torcidas como se fosse um jogo de futebol ou como se cada um adotasse um político de estimação. Essa guerra eleitoral antecipada é reprovável sob todos os aspectos.
Já não basta a política nacional, polarizada entre lulistas x bolsonaristas, travada sob o cadáver de milhares de pessoas, e o povo roraimense ainda vê-se forçado a se submeter a um embate que em nada favorece o momento de grave crise na saúde.
É preciso dar um basta neste tipo de política que sempre foi colocado em prática para desviar o foco das atenções e favorecer politicamente os grupos políticos envolvidos. A pandemia exige outro tipo de comportamento e de atitudes que estejam acima de interesses políticos partidários e de grupo.
O que está em jogo é a vida das pessoas, e não a sobrevivência política de quem quer que seja.
*Colunista