Monitoramento x patrulhamentoOs ataques que o senador Romero Jucá (PMDB) fez à imprensa, no plenário do Senado, ao se defender das acusações de tentar blindar os investigados pela Operação Lava Jato, precisa de uma análise mais atenta por parte da sociedade. Não somente pelo conteúdo em que o parlamentar diz ser vítima de um “patrulhamento” e de “inquisição” por parte dos jornalistas; e sim pelo contexto geral a respeito do papel da imprensa.
Recapitulando os fatos, Dilma Rousseff sofreu os mais duros ataques da mídia, em especial da TV Globo, que apoiou o golpe constitucional por meio do impeachment, orquestrado inclusive pelo próprio Jucá, cuja sua fala gravada dizia que era preciso “estancar a sangria da Lava Jato”.
Quanto mais avançam as tramas para enterrar a Lava Jato, mais se tem certeza da articulação do golpe, que contou com o apoio incondicional da Globo, a qual insuflou o povo a ir às ruas de verde e amarelo. No entanto, esses mesmos personagens de hoje, a exemplo de Jucá, nunca foram para o Congresso bradar contra a manipulação de setores da imprensa que articularam o golpe visando “estancar a sangria” provocada pelas investigações.
Voltando ao presente momento, surge Jucá fazendo os mais duros ataques a jornalistas por estarem cumprindo com o seu papel inerente à profissão, que é monitorar o poder. Como o principal papel da imprensa livre é fiscalizar, se assim não agir, não é imprensa, mas propaganda.
Porém, Jucá tenta confundir a opinião pública, se colocando como vítima de um “patrulhamento”, que na verdade nada mais é do que o trabalho da imprensa de monitorar e fiscalizar quem está no poder. E não foi isso o que aconteceu no caso do impeachment, quando a Globo deixou de lado o papel de monitorar para manipular a população a fim de que ela desse aval determinante para um impeachment como parte do golpe que visava enterrar a Operação Lava Jato.
Neste contexto, “imprensa boa” é aquela que serve aos propósitos de quem está no poder; “jornalista bom” passa a ser aquele que se torna serviçal do poder. Então, a imprensa e os jornalistas que exercem o seu verdadeiro papel, motivo de sua existência na manutenção da democracia, que é monitorar o centro do poder, passam a ser atacados e ultrajados.
Definitivamente, é preciso que a sociedade comece a enxergar o papel da imprensa sem essas armadilhas ideológicas, como vem fazendo Trump nos Estados Unidos, tentando demonizar a mídia que o monitora, tática seguida por Jucá. O verdadeiro papel do jornalista é ser comprometido com a democracia; e democracia se constrói e se alimenta na base do senso crítico, com o monitoramento do poder e de quem faz parte dele.
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