JESSÉ SOUZA

Muda-se o nome, mas o passado não pode ser esquecido nem apagado

Há três anos a única maternidade com UTI neonatal de Roraima funciona em uma estrutura improvisada (Foto: Divulgação/Secom-RR)

A questão não é, especificamente, a mudança de nome do antigo Hospital Materno Infantil Nossa Senhora de Nazareth para que seja rebatizada com o nome do falecido ex-deputado federal Alceste Madeira, um médico ginecologista e obstetra muito conhecido em Roraima e que morreu em dezembro de 2021. Mudar o nome é uma estratégia antiga para esquecer o passado e tomar um novo rumo a partir dali.

O mais correto para um Estado que registra um acelerado inchaço populacional devido à migração em massa seria construir uma nova maternidade, seja na Capital ou mesmo na região Sul de Roraima, onde vive uma população que sofre as mais severas consequências de ter sempre que recorrer à Capital em qualquer situação, e não apenas quando se trata de saúde pública.

Dentro do contexto, mesmo que a proposta dos deputados estaduais seja mudar o nome, não podemos esquecer o passado, quando este mesmo Hospital Materno Infantil registrou, no final da década de 1990, o maior escândalo nacional com as mortes no berçário de bebês por infecção hospitalar, um histórico furo jornalístico da Folha de Boa Vista e que foi parar nas manchetes nacionais, alertando o país sobre o que acontecia em outras maternidades brasileiras.

De lá para cá, praticamente nada mudou, exibindo o imperdoável descaso dos parlamentares e de seguidos governos. Na atualidade, segue como única maternidade pública com Unidade de Terapia Intensiva (UTI) neonatal em Roraima funcionando há três anos completados este mês em uma estrutura de metal e lona às margens do trecho sul da BR-174. A situação é tão flagrante que ficou conhecida pela população como “maternidade de lona”.

Também não pode ser esquecido o montante de recursos que foi anunciado para a maternidade, que pode ter chegado a R$100 milhões desde que foi fechada, em 05 de junho de 2021, pela Secretaria de Estado da Saúde (Sesau), quando transferiu as pacientes para atual estrutura provisória atrás do Hospital da Criança, no bairro 13 de Setembro, na saída para Manaus.

Naquele período, em 2021, quando a previsão seria concluir a obra em cinco meses, chegou a ser divulgado que o aluguel do espaço provisório custava R$10 milhões, valor este que foi reajustado para cerca de R$ 12 milhões. Em 2022, novo reajuste para R$ 13 milhões, valor que se manteve com a renovação do contrato.

A reforma da maternidade foi anunciada mediante destinação de emendas parlamentares no valor de R$ 17 milhões. Como ninguém fiscalizou, as emendas foram perdidas sob a alegação de que a Sesau não cumprira o prazo para liquidar a verba, restando apenas recursos próprios para concluir a obra, que nunca avançou e ficou por aquilo mesmo.

Em julho de 2023, em tempo recorde, a Assembleia Legislativa de Roraima autorizou abertura de crédito especial de R$ 15 milhões para a obra. Em seguida, a Sesau publicou dispensa de licitação para a retomada da reforma, com valor de R$ 38,3 milhões, praticamente a mesma cifra consumida no aluguel da estrutura de lona que abriga a maternidade até os dias atuais.

Que mudem de nome e façam festa na inauguração da nova maternidade, com previsão para agosto próximo. Mas o passado não poderá ser apagado e todas essas cifras que saltitaram nas publicações da imprensa local não podem passar em branco pelos órgãos fiscalizadores.  

*Colunista

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