Mundo de BobO que a Prefeitura tem a ver com a chuva? Esse foi o questionamento mais usado, nas redes sociais, para argumentar que os alagamentos que ocorreram na grande chuva de segunda-feira seriam culpa tão somente do tempo ou de São Pedro, este guardião das chaves do Céu que não tem medidas em suas vontades de mandar chover.
Para quem busca argumento para defender governantes, esse questionamento em forma de resposta até que cai bem. Porém, para os cidadãos que pagam impostos e sentem a crise provocada principalmente pela corrupção, esse tipo de indagação assemelha-se a uma ofensa, um desafio à inteligência.
A chuva torrencial não pode ser controlada por nenhum político, pois, se isto fosse possível, haveria imposto sobre o clima e não choveria para todo mundo. Porém, é obrigação do poder público garantir obras de esgotos pluviais e outras ações que evitem tragédias e transtornos à população.
O fato de Boa Vista ser cidade plana também não pode ser usado como argumento, pois as ocupações irregulares permitidas por políticos que apoiaram (e apoiam) invasões até na beira de lagoas e margens de igarapés, ao longo das décadas, também foram geradas por falta de planejamento e políticas públicas que evitassem tais problemas.
A Capital de Roraima, pela montanha de recursos que já chegou e chega no Governo Federal, não era para ter uma rua ou avenida sem asfalto, sem saneamento básico, possuindo drenagem exemplar para evitar alagações. Não era para existir uma casa de madeira caindo aos pedaços nem um poste de madeira corroído por cupins.
Porém, ao longo dos anos, foi privilegiada a estética em vez de infraestrutura básica, pois é mais fácil enganar o povo com a plasticidade das imagens, uma vez que as respostas para os alagamentos a cada inverno estão na ponta da língua: cidade plana, falta de recursos para saneamento, inverno rigoroso impossível de controlar, etc etc etc.
Quando passa o período chuvoso, o povo esquece os transtornos e os prejuízos, então os políticos continuam investindo em estética e passam a enrolar a opinião pública com propagandas que nos fazem acreditar que estamos no primeiro mundo.
Ainda que os recursos para reformas de praças e outros logradouros venham de recursos federais, bem como de emendas parlamentares, no maravilhoso mundo de Bob aparece como se fossem ações unicamente municipais, com a estética do jardim fazendo uma lavagem cerebral.
Não que não precisemos de flores e praças bonitas. Precisamos, SIM. Mas, ao longo dos anos, os setores essenciais vêm sendo negligenciados, a exemplo do saneamento básico. Não era para essas chuvas nos incomodarem desta forma há pelo menos 10 anos. Mas não é isso o que acontece. Cada alagamento tem o dedo da falta de investimento não realizado pelas autoridades. É isso que o cidadão contribuinte precisa saber…
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