Jessé Souza
Na beira do abismo 24 04 2015 905
Na beira do abismo – Jessé Souza* O alerta vem sendo dado há um certo tempo: a violência ronda as escolas públicas da Capital e do interior. Como não há uma política de governo nem da sociedade para encarar o problema na urgência que ele necessita, a tendência é a situação piorar. E vem piorando: um aluno de 13 anos foi flagrado com uma arma caseira municiada dentro da escola no bairro Nova Cidade, conforme noticiou a Folha ontem. Isso significa que a violência deixou de rondar os estabelecimentos para entrar na sala de aula. E quando o crime se estabelece dentro das escolas, tirá-lo de lá é bem mais difícil, pois ele geralmente já contaminou muitas crianças e adolescentes, por meio da droga, isso quando não começa a tirar a vida de alunos e professores. O poder público não vem tomando providências contundentes, a exemplo do Estado de Roraima que, em outros tempos, começou a implantar a Polícia Comunitária, inclusive com uma equipe que mantinha proximidade com a comunidade escolar, só que esse programa foi extinto por falta de estrutura e também de vontade política. Com o desmantelamento desse serviço, a Polícia Militar mantém, a duras penas, o programa de prevenção e combate às drogas nas escolas, o Proerd, que funciona mais na boa vontade da equipe de profissionais do que por parte do governo. Esse programa não tem o apoio necessário e não consegue avançar como deveria para servir como um trabalho efetivo de prevenção. Como a PM desistiu da Polícia Comunitária e o Proerd trabalha sem apoio e sem estrutura, as escolas ficam reféns dessa ausência de política pública, com gestores e professores tentando fazer tudo na raça, na boa vontade, no desafio, no sofrimento de quem tem que ensinar e fazer o papel do pai e da mãe, além de tentar compensar a ausência do Estado. Sendo assim, as escolas jamais conseguirão, sozinhas, vencer esse grande perigo que parou de rondar os muros para começar a se estabelecer dentro da sala de aula. Com o governo sucateado pela corrupção, que atinge de cheio o setor educacional e a segurança pública, então todos corremos perigo. Sem esse trabalho preventivo nas escolas, as polícias vão continuar “enxugando gelo” e correndo atrás de bandidos, uma vez que não tem como efetivamente combater o crime na raiz e reduzir a criminalidade. Distante da comunidade, fatalmente os excessos serão cometidos, com prejuízos para toda sociedade. Não há como reduzir a criminalidade se não houver esse trabalho árduo de prevenção, principalmente tendo a escola como foco. Correr atrás de bandido para prender não é política de segurança, uma vez que o Estado sequer está conseguindo manter os criminosos presos, seja pela superlotação ou porque os presídios não conseguem evitar fugas. Então, não é a escola que está perdendo para o crime, é a sociedade que está indo para o buraco. *Jornalista [email protected]