JESSÉ SOUZA

Não basta conscientizar, tem que punir quem promove queimadas sem controle e incêndios

Morador da Serra do Tepequém combate fogo com equipamento básico, pois as autoridades não chegaram por lá nos momentos críticos

Os severos incêndios florestais e queimadas descontroladas que atingiram o Estado de Roraima, no período do fim de 2023 ao início de 2024, mostraram que as autoridades foram omissas em todos os níveis de governos, seja por ignorarem a questão do fogo ou por não terem nenhum plano de prevenção e combate. E o momento pelo qual o país passa diante da situação de emergência, que na semana passada chegou a registrar 149 municípios para seca e 22 cidades para incêndios florestais, é o ápice do alerta.

Em relação à prevenção, a questão do fogo pode ser comparada à situação dos acidentes de trânsito na Capital: as pessoas já mostraram que não estão mais ligando para conscientização nem educação, então é necessário que as autoridades partam urgente para o rigor na punição. Não se trata de correr atrás de quem queima lixo no quintal, mas de fazendeiros e grandes proprietários de terras que usam o fogo para limpar área para pasto ou plantios, geralmente usando funcionários.

Atualmente existem tecnologias suficientes para rastrear a origem do fogo, seja por imagem de satélite e até mesmo drones. Mas, até aqui, não se viu nenhum grande proprietário de terras sendo responsabilizado criminalmente por queimadas descontroladas para que finalmente os responsáveis sejam punidos exemplarmente. Estão passando incólumes pela responsabilização dessas grandes tragédias, assim como os patrocinadores do garimpo ilegal passaram por muitos anos, até serem investigados e presos pela Polícia Federal.

A repressão ao fogo criminoso precisa alcançar o nível do mesmo tratamento dispensado atualmente ao garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami e em outras áreas, em que passaram a fazer repressão não apenas contra os escavadores de buracos, lá na ponta, mas também contra os donos de aeronaves e empresários que bancam toda estrutura, explorando mão de obra análoga ao da escravidão como ponta de lança.

Esta é a mesma forma de atuar de grandes proprietários de terras, que também usam mão de obra de suas fazendas, geralmente em situações precárias, para atear fogo a fim de abrir espaço para o pasto, pois é mais barato do que investir em equipamentos e tecnologia, provocando um estrago muito semelhante ao que é visto no garimpo ilegal, inclusive de maneira mais rápida e em extensões bem maiores em um curto espaço de tempo.

O cenário de novas tragédias ambientais vem sendo desenhado nos últimos anos, o que foi ignorado pelo governo passado, em nível nacional, e pelos demais governos regionais. Este ano será decisivo para saber o que realmente as autoridades querem adotar como política de enfrentamento aos maiores desastres ambientais da história provocados por incêndios criminosos, como está sendo visto em outros estados neste momento.

*Colunista

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