AFONSO RODRIGUES

Não fomos postos, chegamos

“Não fomos postos neste mundo apenas para existir; fomos postos aqui para viver, e viver significa envolvermo-nos com os outros”. (Samuel Dodson)

Somos todos de origem racional. E chegamos aqui, neste planeta em início de evolução, porque quisemos chegar, e ficamos porque quisemos ficar. A evolução do planeta foi lenta e periclitante. E nós entramos nessa canoa furada. Fomos lentamente perdendo nossa imunidade, sem o sentido de imunização. Que é o que ainda somos e continuaremos sendo, se não buscarmos nossa imunização racional. E pelo que vemos nossa caminhada continua lenta, e pelo que percebemos ainda temos que pagar muito caro pelo nosso desprezo a nós mesmos.

Certo dia, em mil novecentos e noventa e nove, saindo do aeroporto, em São Paulo, comprei um jornal. Na página inicial do jornal havia uma manchete falando sobre a Mônica Bounfiglio. Numa entrevista, a Mônica disse que nunca usou fechaduras nas portas do seu apartamento. Considerei a notícia no jornal como irresponsável. O comportamento da Mônica é puramente racional. Ela cuida dela, e não do bandido. E quando você coloca fechadura na sua porte e redes elétricas no seu muro, você está preocupado com o bandido e pensando nele, e não em você. O que leva seu subconsciente a mais cedo ou mais tarde mandar um bandido até sua casa. Simples pra dedéu.

O Alexandre Magno Rodrigues Oliveira morava ali na Sé, em São Paulo. Nem mesmo quando ele vinha nos visitar, em Roraima, usava chave na fechadura do seu apartamento. E isso nunca me preocupou, porque conheço a evolução do meu filho, na racionalidade. O comportamento racional é para que vivamos em contato permanente com as outras pessoas. E quando respeitamos as diferenças entre nós e os outros, nãos temos por que nos preocuparmos com as diferenças. Quando nos aprimorarmos na racionalidade saberemos que somos o que pensamos. Os que saem de casa se benzendo para não serem assaltados, são os que mais sofrem assaltos.

O policial bem treinado é treinado para ir para a rua defender o cidadão ou combater o criminoso? Se for bem treinado para combater, sempre que você se aproxima dele, a reação mental faz com que ele se perfile, porque você pode muito bem ser um assaltante. E é só isso. Isso não quer dizer que ele é um mau-policial, mas que ele é um policial bem treinado e preparado. O problema não está no policial, mas no treinamento. Que é o que acontece na educação familiar. Se seu filho sair à noite e você ficar no portão, gritando: “Cuidado com os assaltantes! Esteja atento”. Com certeza ele vai encontrar um assaltante lá na frente. Pense nisso.

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