Os recorrentes acidentes de trânsito no último mês de 2023 e no início de 2024 apenas confirmam que este é outro grande desafio a ser encarado pelas autoridades em todos os níveis de governo, em Roraima. A realidade local, sendo o terceiro Estado mais violento no trânsito na região Norte, com 20,2 mortes a cada 100 mil habitantes, é uma pequena mostra da realidade nacional.
Pelo que se tem visto, não restam dúvidas de que o condutor roraimense, especialmente aqueles que transitam na Capital, mostram que não querem ser educados nem conscientizados, uma vez que boa parte dos acidentes diz respeito a uma combinação de irresponsabilidade e imperícia, com visíveis inclinações de burlar a lei e os instrumentos de fiscalização.
Significa que, para enfrentar os comportamentos irresponsáveis, somente uma cidade “sitiada” por radares eletrônicos e quebra-molas irá obrigar os imprudentes a reduzirem a velocidade em locais de tráfego intenso. Voltar com os antigos quebra-molas (aqueles que quebram mesmo) e mexer no bolso dos imprudentes parecem ser a única forma de mudar o comportamento dos que não querem ser educados e conscientizados.
O leitor tem concordado, conforme reagiram ao artigo sobre este mesmo assunto, intitulado “A regressão que revela a incivilidade das pessoas no trânsito roraimense”, publicado em 11 de dezembro passado. Por e-mail, o leitor Magno Araújo reagiu: “Brasileiro só respeita lei quando doe em seu bolso”, escreveu. Outros leitores também convergiram para a mesma opinião.
De outro lado, o poder público municipal tem sido pressionado, especialmente em anos políticos, sob a acusação de uma “indústria da multa”, inclusive com vereadores e até deputados jogando a opinião pública contra as ações de repressão por meio de controle de velocidade com radares eletrônicos, os chamados “pardais”. No entanto, os fatos indicam que a saída é um controle mais rígido.
Alguns trechos de tráfego intenso têm recebido a instalação de “pardais” para conter o excesso de velocidade, a exemplo da Rua Yeyé Coelho, no bairro Aeroporto, e Avenida Carlos Pereira de Melo, na altura da ponte sobre o Igarapé Caranã, no bairro do mesmo nome. E é visível que o condutor só respeita quando está sob fiscalização, ou seja, quando estão sujeitos a multas e pontos negativos na Carteira Nacional de Habilitação (CNH).
A Av. Carlos Pereira de Melo tem outra situação a ser observada: há faixas de pedestres instaladas em um nível mais alto da pista, que servem também como redutores de velocidade. E tudo indica que a faixa elevada para travessia de pedestres terá que ser a nova realidade na engenharia de trânsito para que o condutor boa-vistense volte a respeitar a faixa de pedestre, que outrora era o símbolo da educação do boa-vistense no trânsito.
No bairro São Vicente, marcado por tragédias nos últimos anos, a instalação de quebra-molas e rotatórias em cruzamentos já surtiu efeitos positivos, reduzindo a zero o número de acidentes com vítimas fatais. Os quebra-molas representam a regressão do boa-vistense no trânsito, mas os fatos indicam que não há outra saída imediata mais plausível.
Enquanto medidas mais austeras são tomadas, as autoridades de trânsito não podem abrir mão da educação no trânsito junto às crianças, especialmente nas escolas públicas. Ao mesmo tempo em que as campanhas precisam sair dos institucionais na mídia para as ruas, quem sabe espalhando em pontos estratégicos da cidade os veículos que viraram carcaças devido aos graves acidentes, como verdadeiros monumentos da violência e da imprudência dos condutores.
Seria uma forma de sensibilizar a população em favor da vida e contra a violência no trânsito. Se estamos vivendo uma guerrilha urbana no trânsito, então as estratégias precisam ser mais austeras. Não há outra saída em curto espaço de tempo. Afinal, os hospitais estão lotados de sequelados e quase que diariamente mais uma família fica de luto.
*Colunista