Nem Carnaval nem máscara – o momento é de pensar na imunização das pessoas
Jessé Souza*
Enquanto uns políticos estão em explícita campanha eleitoral antecipada, outros que ainda não passarão pelo crivo das urnas no pleito de 2022 tentam se valer do oportunismo político para aparecer e tentar mostrar para a opinião pública que estão fazendo alguma coisa. A melhor forma de aparecer é usar do expediente da polêmica na imprensa e nas redes sociais.
Esse é o caso de dois vereadores da Capital que, ainda sem apresentar nenhuma proposta que vá ao encontro do anseio da população, são autores de propostas que polemizaram nesse início de semana. Um pediu o cancelamento do Carnaval do ano que vem em Boa Vista. O outro quer desobrigar o uso de máscara na Capital.
São propostas antagônicas, mas que poderiam muito bem serem substituídas por uma postura pró-vacina, a fim de apresentar propostas que incentivem ou motivem as pessoas a se vacinarem a fim de conseguir uma maior porcentagem da população imunizada com as duas vacinas e, agora, com a terceira dose de reforço.
É fato que 80% da população boa-vistense está imunizada, mas os números estaduais mostram que Roraima está em último no ranking de estados com a população imunizada. Isso deve ser motivo de preocupação, pois a população do interior está em movimentação constante entre a zona rural e zona urbana, uma vez que está na Capital a solução para vários problemas dos contribuintes e consumidores.
Muitas cidades interioranas não têm caixa eletrônico para as pessoas sacarem seus benefícios e auxílios, obrigando essa grande parcela de gente a vir para a Capital. É na Capital onde as famílias do interior vêm fazer suas compras para fugir dos altos preços no interior, bem como é em Boa Vista onde estão as sedes dos órgãos públicos, onde só é possível resolver problemas e pendências. Essa transição é um risco muito grande para provocar uma terceira onda da Covid-19.
Então, é temerário apresentar uma proposta para desobrigar o uso de máscara neste momento. Mais preocupante ainda é que a proposição partiu de um médico vereador, que deveria ser o primeiro a dar uma orientação inversa, para que as pessoas continuem se protegendo do vírus, uma vez que a vacina protege e evita o agravamento da saúde, mas não impede 100% que as pessoas contraiam o coronavírus.
Somente a vacinação em massa será possível devolver a normalidade à vida das pessoas, aos poucos, mas a população ainda terá que continuar se protegendo mesmo tomando a vacina. Quem sabe com o aumento dos números de imunização em todo o Estado nem precise adotar medidas mais drástica, como o cancelamento das festas populares.
É por isso que os políticos deveriam estar mais preocupados em adotar medidas que ajudem o governo e as prefeituras a vacinarem o maior número de pessoas, seja propondo incentivos ou mesmo combatendo as mentiras (fake news) que fazem a lavagem cerebral nas pessoas incautas, que acabam sendo manipuladas por ideologia ou por religião.
Para um choque de realidade, seria bom que esses vereadores fossem visitar a Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) do Hospital Geral de Roraima, que continuam lotadas principalmente com pessoas não vacinadas. Iriam descobrir que na UTI 3, por exemplo, até a semana passada, nenhum dos pacientes entubados havia se imunizado.
É disso que a política precisa para contribuir com o bem-estar da sociedade: de decisões pensadas e discutidas, sem a pretensão de gerar polêmica (“falem mal, mas falem de mim”) ou popularidade entre os que defendem a vacina e as medidas de prevenção, e entre aqueles negacionistas antivacina que seguem políticos da ultradireita.
A vida das pessoas ainda continua em risco. A Europa e a Ásia já voltaram a tomar medidas restritivas. Então, é um comportamento irresponsável defender o “liberou geral” enquanto o Estado não sair da lanterna do ranking da população imunizada. Especialmente porque Roraima tem uma realidade de um movimento constante de indígenas, pequenos agricultores e famílias interioranas no vai-e-vem do interior para a Capital, e vice-versa.
*Colunista