JESSÉ SOUZA

No fogo cruzado do garimpo, facção, tráfico e um esquema investigado pela PF

Portal na entrada do Município de Alto Alegre, cidade que vive os reflexos do garimpo ilegal e outras mazelas (Foto: Divulgação)

A população de Alto Alegre, a Centro-Oeste de Roraima, pela posição geográfica daquele município, está no meio de um intenso fogo cruzado entre o garimpo ilegal na Terra Yanomami, a dominação da região por uma facção criminosa e a imigração venezuelana que chegou para ocupar as vilas ao longo das vicinais, cujos estrangeiros pobres servem de combustível para aquela realidade preocupante.

Como se sabe, o garimpo ilegal provoca sérios reflexos, já que a maior parte do dinheiro da venda dos minérios ilegais vai para outros estados, enquanto sobram para as cidades do entorno a criminalidade, o tráfico de drogas e de armas, que por sua vez é disputado pelo crime organizado, o qual costuma arregimentar principalmente jovens na ociosidade, principalmente imigrantes que chegam no desespero em busca de oportunidades e encontram mais pobreza.

A Operação Leviatã, deflagrada nesta terça-feira pela Polícia Federal, cujo alvo é uma suposta organização criminosa atuando nos cofres da Prefeitura de Alto Alegre, acaba por revelar mais uma realidade desalentadora para a população daquele município, uma outra desgraça que se abate sobre uma cidade que visivelmente se encontra abandonada pelo poder público, assim como outras cidades do interior, conforme foi comentado no artigo de ontem.

Segundo as investigações da PF, os desvios do dinheiro público em Alto Alegre seriam resultado de fraudes em contratos de pavimentação, conservação de ruas por meio de tapa-buraco e iluminação pública. E é exatamente tudo isso o que está faltando em Alto Alegre e, não por coincidência, nos demais municípios do interior do Estado, sem exceção alguma, cujos prefeitos gostam de passar um atestado de pobreza orçamentária.

A Justiça Federal em Roraima decretou a prisão do prefeito de Alto Alegre, Pedro Henrique Machado, investigado pelo suposto esquema de corrupção e fraude em licitações. Como não foi encontrado, foi considerado foragido. Cumprindo o segundo mandato, o prefeito seguia no cargo mesmo com o mandato cassado pela Justiça Eleitoral.

O dono de uma empreiteira também estava com a prisão decretada e foi encontrado pela PF na Capital durante a operação. Conforme as investigações, Handerson Torreia de Lima responde a acusação de desviar dinheiro para o prefeito em troca de favorecimento em contratos. Sua empresa foi constituída em 2018 com um capital social de R$ 1 milhão.

Durante a operação, os agentes federais apreenderam maços de dinheiro, armas e munições, além de celulares e computadores, o que poderá levar a mais desdobramentos. A Justiça determinou o bloqueio de R$60 milhões dos investigados, que seria o valor das obras supostamente desviado pelo esquema.  Deverá vir muito mais por aí, uma vez que a PF, agora, tem em mãos um farto material para analisar.

Dentro de todo o contexto, fica evidenciado os meandros de como uma cidade do interior fica submetida a uma penúria, enquanto os políticos que comandam as prefeituras não escondem seu alto poder aquisitivo, desfilando com carrões, comprando imóveis de alto padrão e até morando em Boa Vista, enquanto os eleitores vivem em uma cidade largada sem manutenção básica.

No caso de Alto Alegre, a realidade é bem mais preocupante. Basta transitar pela RR-325, que interliga aquele município a Mucajaí, rodovia esta conhecida também com “transgarimpeira”, por dar acesso a pistas clandestinas e fazendas que dão apoio ao garimpo e ao tráfico de drogas. As placas de sinalização ao longo daquela estrada estão pichadas com a sigla de uma facção criminosa. A população daquela cidade, definitivamente, precisa ser libertada.

*Colunista

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