No gogó – Jessé Souza*A grande verdade é que sempre vivenciamos uma política da enganação, chamada de “política do gogó”, na qual o blábláblá serviu de cortina para esconder a fala de interesse em cuidar do desenvolvimento de Roraima. Não conseguimos sequer resolver problemas históricos, como a questão energética, que é uma das bases para se começar a pensar em programas e políticas para desenvolver o Estado.
Ao contrário disso, podemos perceber que os políticos experimentaram um vertiginoso crescimento em seus patrimônios pessoais e em suas contas correntes. A começar pelo fato de que eles são proprietários dos principais empreendimentos locais, de supermercados a postos de gasolinas, de donos de imensas terras urbanas e rurais a empresas de mineração.
Enquanto eles lutavam pelo desenvolvimento financeiro deles, o Estado de Roraima vem sofrendo a duras penas para ter o direito de conquistar estrutura mínima.
A política do gogó enganou que a sonhada autonomia iria chegar com a construção e o asfaltamento da BR-174. A rodovia está asfaltada de Norte a Sul, de Manaus (AM) a Venezuela, mas nos tornamos apenas ponto de descansos de turistas que vêm e vão por essa estrada em feriados prolongados e fins de semana.
Depois os políticos disseram que faltava energia abundante e confiável. E começaram a surgir lorotas sobre construção de hidrelétricas, as quais eles sabiam que jamais seriam viáveis. O engodo foi sendo empurrado até a chegada da energia de Guri, que se mostrou tão frágil quanto à estabilidade política e econômica da Venezuela.
Não só jamais tivemos uma matriz energética, como retroagimos, pois Roraima terá que voltar ao tempo das termelétricas, inclusive com político anunciando na TV que ele é o responsável por essa “alternativa” para livrar o Estado da assombração da Venezuela. Como a questão energética nunca foi um assunto sério na agenda política, iremos continuar vivendo essa assombração por muito tempo e acreditando nas lorotas.
Houve uma época pior, em que os políticos pregavam que o nosso problema seria a questão indígena. A questão foi solucionada pelo Supremo Tribunal Federal e, quando a máscara caiu, eles se mostraram os verdadeiros tomadores de terras públicas. E a questão fundiária continua emperrada, revelando mais um engodo de um problema não resolvido por causa da imobilidade política e do locupletamento com o patrimônio público.
E assim ficamos reféns, por longos anos, do blábláblá, das mentiras pregadas como fachada a fim de encobrir o verdadeiro interesse da maioria de nossa classe política, que é cuidar primeiro de seus interesses para depois pensar no Estado, nos interesses coletivos (ou nem pensar). A propósito, já está perto de inventarem mais um engodo, pois a campanha eleitoral de 2018 está se aproximando.