Jessé Souza

No pais dos absurdos 5736

No país dos absurdos 

O deputado Joaquim Ruiz, esta semana, subiu à tribuna da Assembleia Legislativa para reclamar do tratamento que recebeu na Agência da Previdência Social em Boa Vista. Da galeria onde eu estava, ouvi com atenção e relembrei o tratamento que recebi, nesses últimos meses, quando precisei do auxílio doença a que tenho direito.

Conforme escrevi em dezembro passado, quando fiz uma despedida porque iria me submeter a um tratamento, relatei a doença que adquiri no exercício da minha profissão, conhecida como Lesão por Esforço Repetitivo (LER). E tive que ir para a “fila dos desesperados” em busca do benefício.

Apesar de um laudo do ortopedista, que tem fé pública, atestando tendinite de quervain, epicondilite medial e síndrome do túnel de carpo (este confirmado por um exame de eletroneuromiografia), a médica perita não só ignorou o laudo e o exame, como assinalou, ao conceder-me somente um mês de auxílio (negando a continuidade do benefício para que eu seguisse meu tratamento), como se fosse uma “doença comum”, e não uma doença do trabalho.

No dia da perícia, é como se o laudo e o eletro não tivessem valor algum, pois a médica ainda pediu para que eu tirasse a blusa para supostamente me examinar, mesmo que minhas doenças fossem no pulso e no cotovelo – talvez para passar a impressão de que realmente seu olhar clínico fosse superior a um laudo e a um eletro.

Ao que parece, existe uma determinação para negar o benefício, mesmo que a pessoa chegue se arrastando, o que não era meu caso, pois cheguei andando, com duas pastas de exames debaixo do braço, pois minhas doenças são “invisíveis”, quer dizer, menos para o olho super clínico da médica que me atendeu.

O deputado sentiu na pele e relatou na tribuna seu drama. Também senti na pele e no bolso, pois não recebi o salário de janeiro e decidi recorrer administrativamente para seguir meu tratamento por conta, já que eu teria que voltar a trabalhar imediatamente, uma vez que fui reprovado pela perícia.

Resta-me somente este espaço para me indignar, depois de ter enfrentado nova fila de espera na Agência da Previdência para entrar com um recurso que pode demorar mais de dois anos para ser analisado. É assim que o trabalhador brasileiro é tratado, na humilhação, pois são mais de 25 anos pagando a Previdência para ser desprezado quando se mais precisa.

Enquanto o deputado relatava sua desventura, veio à minha mente tudo o que vivi na “fila dos desesperados”, nesses últimos meses. Do mesmo jeito que Joaquim Ruiz ouviu de um servidor, também ouvi o conselho: “Recorre à Justiça Federal porque só assim você vai receber”. Creio que terei que fazer isso mesmo. Esse é o Brasil das injustiças e dos absurdos.

*JornalistaE-mail: [email protected]: www.roraimadefato.com.br