Jessé Souza

Nordestinofobia e o neofacismo 30 10 2014 215

Jessé Souza* Antes de tudo, quero explicar o que é o fascismo. Trata-se de uma forma de radicalismo político autoritário nacionalista que ganhou destaque no início do século XX na Europa. Os fascistas procuravam unificar sua nação através de um Estado totalitário que promovesse um Estado forte, a mobilização em massa da comunidade nacional, confiando em um partido de vanguarda para iniciar uma revolução. Os fascistas se tornaram hostis à democracia liberal, ao socialismo e ao comunismo, apesar das semelhanças com esses últimos dois. Compartilham certas características comuns, incluindo a veneração ao Estado, a devoção a um líder forte e uma ênfase em ultranacionalismo, etnocentrismo e militarismo (Fonte: Wikipédia). Explicado, vamos aos fatos. Nas últimas eleições, deu-se início ao surgimento de um neofacismo brasileiro que elegeu os pobres como uma ameaça à democracia e ao desenvolvimento do país, reforçado com um forte preconceito aos nordestinos e, mais recentemente, aos nortistas. A “nordestinofobia” é a expressão mais forte dos neofacistas, que se sentem à vontade para expressar suas iras nas redes sociais, ganhando adeptos principalmente daqueles que se julgam “classe média” ou mais politizados e inteligentes que os demais. Não se trata mais “apenas” de um movimento partindo de paulistas querendo outra vez se apartar do Brasil, mas de um pensamento que ganha forças em todo o Brasil, inclusive no Norte e Nordeste, e já se desenha como uma posição política de responsabilizar os pobres, em especial os nordestinos, pelas mazelas que o país enfrenta, cujas raízes são históricas. O posicionamento dos nordestinofóbicos tem muito do fascismo, como o etonocentrismo, em que muitos acham que sua cultura e sua inteligência são superiores aos demais, principalmente quando se trata de pobres, e um nacionalismo extremo a ponto de defender a volta dos militares ou a redução de direitos democráticos conquistados a duras penas pela sociedade. Para tentar justificar esse ódio e preconceito aos pobres, criam sofismas dos mais variados, como um suposto surgimento do comunismo e até mesmo do bolivarianismo no Brasil, mesmo sabendo que isto seria impensável para um país como o nosso. Contando com a desinformação das pessoas, esse sentimento falso de nacionalismo faz aflorar a defesa da segregação dos pobres e os ataques a quem essas pessoas acham inferiores. O neofacismo brasileiro ganha combustível a partir da classe média, que aceitou o jogo de ser defensora e para-choque dos mais ricos, estes que não aceitam que mexam em suas máquinas de fazer dinheiro à custa do sofrimento da sociedade. E muitas pessoas caem no jogo de que estão sendo vítimas de uma grande conspiração que só existe nas cabeças delirantes dos que não admitem uma pessoa de chinelo e bermuda nas áreas que elas acham que deveriam ser só deles, como um aeroporto. É preciso que a sociedade brasileira discuta essa realidade com urgência, pois estamos construindo um canibalismo social, em que pobre que tem mais condições financeiras aceitam ideias neofacistas contra pobre que recebe benefício social dos governos. Os fascistas estão ganhando esse jogo de poder. *Jornalista [email protected]