Hoje ele é oficial de alta escala, na PM de Roraima. Viajei no pensamento, ontem pela manhã, olhando para ele sem que ele percebesse. E o que vi ali, naquele Oficial, foi aquela criança ativa e esperta que sempre me surpreendia nas ações e atitudes. No meu livro “O Caçador de Marimbondos” falei dele, numa das atitudes mais interessantes. E como o pensamento rola num vai e volta, não custa relembrar aqueles dias que vivemos em nossa chegada a Boa Vista. E tudo aconteceu em nossas terras na Confiança, no Cantá. O hoje oficial, ainda era uma criancinha travessa. E eu adorava suas travessuras.
Esse episódio está no livro, mas não faz mal lembrá-lo aqui. Naquela manhã eu cuidava de uma atividade no terreno, quando o garotinho chegou e falou:
– Pai… amanhã cedo eu vou fugir de casa.
E como eu já conhecia o cara, e sabia que ele estava sendo sincero, perguntei:
– E pra onde você vai?
Ele falou com seriedade:
– Vou sair por aí. Vou procurar um lugar pra eu ficar.
– Tudo bem. Mas tenha muito cuidado.
Ele ficou calado e retirou-se. No dia seguinte, pela manhã, eu cuidava dos animais quando ele chegou, com uma mochila nas costas e pronto para a caminhada.
– Pronto, pai. Vou pegar uma carona, ali na estrada.
E como já nos conhecíamos, resolvi bater um papo, sabendo como a fato iria terminar. E foi aí que a Salete terminou de preparar a mesa para o café, e propositadamente chegou à porta e gritou:
– O café está na mesa! Podem vir!
Virei-me para o viajante e falei:
-Vamos tomar o café.
Saímos, tomamos o café e ele juntou-se aos irmãos e começaram a brincar, como sempre. E o melhor é que a partir dali, nunca mais ouvi alguém falar em fugir de casa. Deu pra sacar o comportamento em família? Não é fácil, mas é assim que vivemos em harmonia. Não tenho como explicar, mas aconselho a manter um relacionamento sadio e respeitoso com seus filhos. Mas isso exige muita educação e respeito na convivência. Não sei se o Oficial vai ler esse papo. Mas se ele vier a ler vai rir muito de um caso do qual ele certamente não se lembra. É muito gostoso a gente se lembrar de momentos simples que nos trouxeram felicidade na simplicidade. Procure criar momentos agradáveis com seus filhos, sobretudo enquanto eles ainda forem crianças. O importante é que você possa olhar para ele no futuro, e se sentir feliz nas lembranças do passado. Cri-o para o futuro dele. E isso só será possível com liberdade. Pense nisso.
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