A pontuação de Roraima no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (ldeb) 2023, divulgada pelo Ministério da Educação (MEC) e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) na quarta-feira passada, 14, chama as autoridades e os educadores a uma profunda reflexão sobre os rumos da Educação no Estado. Há um abismo logo ali na frente que precisa de ações rápidas.
Conforme os números do indicador, Roraima encabeça a lista dos estados que não conseguiram atingir a meta estabelecida do Ideb no ensino médio, seguido por Rio de Janeiro e Rio Grande do Norte. Roraima tinha meta prevista de 5,1, mas ficou com a pontuação de 3,6 em 2023. O Rio de Janeiro tinha meta de 4,6 e marcou 3,3, enquanto o Rio Grande do Norte precisava superar 4,4 e atingiu apenas 3,2.
Das 27 unidades da Federação, apenas Goiás, Pernambuco e Piauí conseguiram atingir a meta. O Ideb do Brasil ficou em 4,3, registrando aumento de 0,1 quando comparado a 2021 e 2019 (4,2), cuja meta para esta etapa do ensino em 2021 era 5,2. O cálculo do Ideb é baseado nos testes de Língua Portuguesa e Matemática, o que demostra o declínio do aprendizado dos estudantes nas duas principais disciplinas.
Os dados também são negativos para o ensino fundamental. Roraima alcançou 5,5 pontos nos anos iniciais do ensino fundamental (1º ao 5º), que significa 0,4 pontos abaixo da meta estabelecida para o Estado no primeiro ciclo do Ideb (2007-2021). Nos anos finais do ensino fundamental (6º ao 9º), Roraima alcançou 4,3 pontos e 3,5 pontos, ficando abaixo da meta do Ideb projetada para o Estado em todas as etapas de ensino.
Os números refletem uma realidade preocupante, já que o Ideb é o principal indicador de qualidade da educação brasileira, composto por dados de aprendizagem em Matemática e Língua Portuguesa e taxas de aprovação. Os estados que apresentaram dados positivos apostaram em aulas extras de Português e Matemática, foco na recomposição da aprendizagem de conteúdos que não foram suficientemente absorvidos e melhor avaliação dos estudantes.
Em Roraima, os números negativos mostram que não há um plano de governo para a educação pública atingir metas futuras, ficando patinando nos mesmos problemas em seguidos governos, a exemplo de falta de professores, deficiência no transporte escolar, falta de estrutura nas escolas que padecem de reformas e ampliações. Após a pandemia, por dois anos seguidos o governo não conseguiu dar início às aulas no período correto, mantendo dois calendários.
A situação só piora quando se analisa a educação indígena, com os professores tentando articular uma greve da categoria, o que não ocorreu porque a Justiça impediu. As deficiências no setor são flagrantes e históricas, onde falta até merendeiras e a maioria absoluta das escolas está há três décadas sem obras de reforma ou ampliação.
Bem acima disso, o setor de Educação sempre foi colocado na cota de negociações partidárias, um problema tão crônico quanto histórico, a ponto de registrar em governos passados o absurdo de secretária de Educação ser a tesoureira da campanha eleitoral, em explícita mostra de como o setor é tratado e loteado pelos políticos.
Não há como se alcançar boas notas enquanto essa for a realidade nas escolas públicas. Estamos a um passo de um abismo.
*Colunista