As principais notícias dos últimos dias representam fielmente no que o Estado de Roraima se transformou ao longo desses últimos anos a partir do que é praticado principalmente na política partidária. Uma delas foi a apreensão de farto volume de dinheiro com fortes indícios de que seria direcionado para a corrupção eleitoral, inclusive com participação de policiais militares de folga servindo como seguranças.
Outra notícia foi a operação da Polícia Federal para combater o financiamento, extração e comercialização ilegal de ouro em uma conexão criminosa entre Roraima, Amazonas, Pará e Mato Grosso, esquema este permitido a partir do garimpo ilegal que foi apoiado por uma política deliberada a partir de 2019, escancarando a exploração de ouro e cassiterita na Terra Indígena Yanomami e outras terras indígenas Brasil afora, abrindo caminho para a concentração do crime organizado em nova atividade criminosa.
Não bastasse isso, houve ainda as últimas notícias do caso de dois deputados na ruidosa disputa judicial para saber quem é o candidato ou a candidata à Prefeitura de Boa Vista, mostrando o afinco com que os políticos brigam quando se trata da disputa pelo poder – afinco este que não é o mesmo quando se trata de defender os interesses da coletividade em um Estado onde a falta de água, luz e internet é um fato tão corriqueiro quanto nocivo ao desenvolvimento do Estado.
Embora sejam fatos distintos, todos estão intrinsicamente ligados de alguma forma. Senão, vejamos. A questão do garimpo ilegal já sabemos que é um abre portas para outros crimes, inclusive a corrupção nos poderes constituídos. O garimpo atraiu o crime organizado, que cooptou inclusive policiais, agentes do governo, políticos e outros. A Operação Bruciato, deflagrada nesta terça-feira, 10, pela PF, mostrou bem isso, pois o esquema envolve a participação de servidores públicos e indígenas.
Em outros casos passados, os quais são de amplo conhecimento dos roraimenses, houve a participação de policiais militares na formação de milícias para defender interesses de empresários do garimpo ou simplesmente agindo por conta própria para assaltar dinheiro de garimpeiros, inclusive com formação de grupo de extermínio que agia simulando confronto policial. São casos que estão sob investigação policial com fartas provas.
A situação ficou tão fora de controle que policiais militares não se intimidam em fazer segurança privada para candidatos que andam com vultosas somas de dinheiro sacado na boca do caixa de bancos possivelmente para a compra de votos, conforme ficou constatado na operação da PF, na segunda-feira, 09, que prendeu em flagrante um empresário, que é marido de uma deputada, circulando com R$500 mil no carro, sob a proteção de dois PMs do batalhão de elite da Corporação.
Nas eleições passadas, a PF deflagrou operações cujos alvos incluíam PMs dando apoio à campanha eleitoral, inclusive com uso de viaturas, o que significa que a utilização de policiais para ações ilegais tornou-se comum desde governos pretéritos. A partir daí, outros policiais acharam que podiam ficar impunes em outros crimes, como assassinatos de ampla repercussão que ocorreram nos últimos meses. Inclusive o próprio comandante da PM é alvo de investigações em outros casos.
Como se não bastasse tal realidade, os políticos nem se envergonham em abrir um ringue eleitoral na disputa pelo poder, mesmo sabendo que o desfecho inevitavelmente será prejudicial a todos do grupo. Enquanto isso, a criminalidade avança sem que os políticos e as polícias se alarmem, a exemplo do homem executado a tiros ontem à tarde, no bairro 13 de Setembro, à luz do dia e no meio da rua, em uma região dominada pelo crime organizado internacional, onde faccionados venezuelanos dão as ordens.
Aí está o resumo do que Roraima se tornou. Sem tirar nem pôr.
*Colunista