JESSÉ SOUZA

Nova cena de bangue-bangue no 13 e a inércia diante da audácia de facção venezuelana

Cena do mais recente tiroteio no bairro 13 de Setembro, área controlada pelo facção venezuelana (Foto: Nilzete Franco)

Enquanto vários policiais militares, inclusive o comandante da corporação, são investigados sob suspeita ou acusações de crimes, os bandidos dão seguidas demonstrações de força e poder no bairro 13 de Setembro, a qualquer hora do dia ou da noite, uma conhecida área conflagrada por uma facção criminosa venezuelana, que também controla o tráfico de droga em outros bairros vizinhos: São Vicente, Calungá e Pricumã. E parece que esse bangue-bangue do lavrado está sendo normalizado.

O caso mais recente, quando dois homens foram alvejados por tiros na tarde de sexta-feira passada (um venezuelano era o alvo, enquanto um idoso brasileiro foi vítima de bala perdida), é só mais uma sequência de vários outros casos que já ocorreram naquele bairro, dominado pela facção criminosa venezuelana El Tren de Aragua. Pelo que se vê, essa facção age em conluio com as facções brasileiras que controlam Roraima, pois inexiste qualquer indício de confronto entre faccionados.

Inclusive, da forma audaciosa que atuam, não seria nenhuma aberração caso surja quem diga que haveria suspeita de um pacto informal com a “banda podre policial” (“não mexam com a gente que não mexemos com vocês), pois o Mapa da Segurança Pública de 2023 e 2024 mostram que neste período nenhum policial foi morto no exercício da profissão ou fora dela, confirmando a inexistência de qualquer guerra declarada entre bandidos e policiais. 

De outro modo, os bandidos venezuelanos não atuariam abertamente se não tivessem qualquer acordo com a maior facção brasileira que se estabeleceu em Roraima a partir de 2013, o Primeiro Comando da Capital (PCC), que dividiu o Estado em 19 regionais que servem para controlar o tráfico de drogas, de armas de fogo e de munições, além de servirem para expansão dos seus negócios, inclusive o garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami foi a última regional da facção estabelecida. Em Boa Vista, são cinco regionais que dividem os bairros.

Tudo isso é de conhecimento das autoridades estaduais e federais, pois os dados dessa geografia do crime fazem parte de documentos da Promotoria de Justiça Criminal, do Ministério Público de Roraima, os quais foram coletados a partir de revistas feitas nos principais presídios roraimenses pelas polícias e agentes da Secretaria Estadual de Justiça e Cidadania (Sejuc).

Sem serem confrontados por uma política efetiva do governo estadual – visivelmente apático com a Polícia Militar administrando escândalos internos e externos – e em conluio com a facção brasileira, os bandidos venezuelanos impõem suas ordens no bairro 13 de Setembro e em todo entorno, com seguidos acertos de conta audaciosos, inclusive em frente da movimentada Rodoviária Internacional de Boa Vista, onde dois venezuelanos foram baleados recentemente.

Passou da hora de as autoridades de Segurança Pública agirem para enfrentar esta perigosa realidade. É óbvio que, para enfrentar os criminosos que estão bem organizados, antes é necessário passar a limpo essa chamada “banda podre” dentro da Polícia Militar, cujos investigados respondem por formação de milícia, assassinatos, extorsões, venda ilegal de armas e munições, além de vigilância privada não só para empresários de garimpo, mas também para autoridades.

*Colunista

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