O cenário mudou no Residencial Vila Jardim, no bairro Cidade Satélite, na zona Oeste da Capital. Depois de ter sido dominado pelo tráfico, a realidade é bem diferente nos dias de hoje. Não se vê mais jovens vendendo droga abertamente entre os extensos blocos residenciais. E a todo momento existe uma viatura fazendo incursões por entre esses blocos ou passando nas imediações.
Significa que, quando há vontade política, os problemas são atacados como deveriam. Da forma que estava, ali era uma vergonha para as autoridades policiais do Estado, que permitiam a bandidagem se apossar de um local que deveria ser apenas das famílias. E hoje se vê crianças com seus pais brincando nas áreas de convivência e até mesmo nas calçadas e vias internas.
Não significa que o Vila Jardim se transformou no paraíso. Absolutamente não. Mas já se percebe a presença do Estado, o que faz com que os moradores possam se sentir um pouco mais seguros para sair de seus apartamentos para as áreas abertas e coletivas, antes ocupadas por vagabundos de toda espécie, especialmente os “aviões” do tráfico de drogas.
Apesar dessa visível transformação por lá, há algo estranho ocorrendo no policiamento ostensivo da cidade, especialmente na zona Oeste. Viaturas da Polícia Militar sem qualquer efetivo estão sendo estacionadas estrategicamente em alguns pontos dos bairros mais populosos durante o dia.
No sábado pela manhã, uma viatura foi estacionada na movimentada Avenida Rui Baraúna, que divide os bairros Jardim Caranã e União. E cenas semelhantes podem ser vistas em outros pontos da cidade. Moradores dos bairros mais afastados têm relatado que as viaturas ficam rodando somente até às 2h da madrugada. E isso não seria de agora.
A impressão é que o policiamento ostensivo tem sido direcionado para evitar quaisquer tipos de confronto com a bandidagem, que está em guerra na disputa de facções, uma vez que os criminosos têm acesso a armas pesadas e são audaciosos. Coincidência ou não, a desova de corpos decapitados é feita em áreas centrais. Somente quando há uma grande repercussão social é que o crime imediatamente é investigado e os suspeitos identificados.
Em outra ponta, não se vê uma política de governo de prevenção às drogas junto às comunidades onde o tráfico atua. Nem sequer se ouve mais falar sobre o Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência, o Proerd, que é uma ação cooperativa entre a Polícia Militar, as escolas e as famílias, cuja função principal da PM é prevenir o uso e o abuso de drogas nas escolas, onde estão as crianças e adolescentes.
Não só isso. A sociedade como um todo deve ser preparada para o combate e prevenção às drogas, incluindo aí o Judiciário, que precisa refletir sobre a aplicação das sentenças e concessão de benefícios a presos faccionados. Uma recente decisão de um juiz, que mandou soltar uma dupla presa em flagrante com 243Kg de skunk no Município de Rorainópolis, no Sul do Estado, precisa ser refletida. Detalhe: um dos envolvidos já trabalhou para um político com mandato.
A sociedade e suas instituições precisam entender que existe uma guerrilha urbana em andamento, a qual não pode ser ignorada nem tolerada, sob pena de o Estado ser completamente dominado pelo crime, o qual tem mostrado organização capaz de montar um poder paralelo. E tem-se a impressão que o poder público está fazendo pouco esforço para enfrentar esta dura realidade.
Logo, o resumo dos fatos é que, enquanto a polícia decidiu manter o controle do Vila Jardim, outros setores parecem estar descobertos, precisando de uma ação incisiva que nunca chega. É um caso que pode ser comparado à metáfora do cobertor curto que, quando se cobre a cabeça, os pés ficam descobertos. E isso não é culpa dos policiais e não apenas das polícias como instituição, mas da política de governo que parece estar engessada. Os fatos indicam isso.
*Colunista