JESSÉ SOUZA

Números da guerrilha no trânsito e a necessidade de tomada de consciência

Estatística mostra que é grande o número de pessoas dirigindo em Roraima sem ter CNH (Foto: Divulgação)

A Semana Nacional de Trânsito começou, em Roraima, como se tudo estivesse dentro da normalidade, algo como um dia a mais no calendário. Mas é isso mesmo o que boa parte das autoridades do setor pensa e age, pois os números mostram grandes problemas que não são enfrentados como deveriam, inclusive com ausência completa de ações educativas ao logo do ano.

Dados do Departamento Estadual de Trânsito de Roraima (Detran-RR) apontam 11.397 infrações nos primeiros cinco meses deste ano, o que significa um aumento de 31% se comparado ao mesmo período de 2022, quando as estatísticas apontaram 8.651 registros de infrações. As matérias policiais refletem isso, com corriqueiros casos de acidentes flagrantemente provocados por imprudência ou imperícia.

Um dado assusta: na terceira colocação das maiores irregularidades anotadas no trânsito roraimense de janeiro a maio deste ano está dirigir sem Carteira Nacional de Habilitação (CNH). Mas no topo das listas de infrações anotadas pelos agentes está a falta de uso de cinto de segurança por parte do condutor e dos passageiros (4.124 casos), seguido de veículos sem licenciamento (1.678).

Todas essas infrações são exclusivamente responsabilidade direta do condutor. E impressiona o grande número de pessoas que estão conduzindo carro e moto sem estarem habilitadas, o que contribui decisivamente para o grande número de acidentes que ocorrem diariamente na Capital e no interior do Estado. Algo precisa ser feito para chamar essas pessoas para a formação, em vez de só buscar a multa para encher os cofres públicos.

São visíveis o desconhecimento básico e a irresponsabilidade de muitos condutores, os quais preferem jogar a culpa apenas para o poder público, a exemplo da falta de sinalização, enquanto o Código de Trânsito Brasileiro (CTB) é bem claro ao regular a preferência em qualquer cruzamento onde não haja sinalização horizontal ou vertical.

Embora o poder público não esteja isento de suas culpas, muitos acidentes poderiam ser evitados se cada condutor cumprisse com sua parte, tanto no que diz respeito à legislação imposta pelo CTB quanto na adoção de ações de uma direção defensiva, algo que se aprende nas aulas práticas dos Centros de Formação de Condutores (CFCs) quando a pessoa vai tirar a habilitação. Mas, como muitos sequer estão habilitados, então não há como exigir formação e educação de quem não os tem.

Apesar da visível irresponsabilidade de muitos condutores, ainda surgem, aqui e acolá, vereadores e outras pessoas se posicionado contra a instalação de redutores de velocidade, especialmente os chamados “pardais”, os quais têm a função exatamente de combater o excesso de velocidade. Se os radares não existem em determinados locais, mais vidas já tinham sucumbida devido principalmente ao excesso de velocidade.

Nesta semana, é necessário que o cidadão comece a refletir sobre o seu papel e sua importância no trânsito a fim de reduzir o número de acidentes no Estado, os quais têm ceifado vidas, deixando famílias enlutadas e filhos órfãos, além de provocar o sufocamento no atendimento na saúde pública, o que significa transtorno para quem busca o Sistema Único de Saúde (SUS), demandando mais recursos públicos que deveriam ser aplicados na melhoria de outros setores.

Os acidentes de trânsito ainda são responsáveis por provocar sequelas que mudam a vida das pessoas e de suas famílias para sempre, muitas vezes incapacitando definitivamente as vítimas para a volta ao trabalho e a retomada à vida normal, o que gera outros graves reflexos prejudiciais à sociedade, ao mercado de trabalho e ao setor  público, como a Previdência Social.

A mensagem que deve ser passada nesta Semana Nacional de Trânsito, então, deve a ser a tomada de consciência por parte do cidadão, especialmente os condutores, a fim de enfrentar essa guerrilha diária que se tornou o trânsito roraimense. 

*Colunista

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