Números explicitam a realidade do desmatamento no país
Jessé Souza*
A verdadeira face da questão do meio ambiente começa a ser revelada a partir dos números apresentados pelo Governo Federal: o desmatamento ilegal entre agosto de 2020 e julho de 2021 aumentou 22% em relação ao período anterior, conforme dados das medições de satélite do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).
As imagens mostram que a Amazônia brasileira perdeu 13.235 quilômetros quadrados de árvores em um ano, contra 10.851 quilômetros quadrados da pesquisa anterior, sendo a maior perda registrada nos últimos 15 anos. Não poderia ter sido diferente quando o então o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, foi flagrado no grande esquema de desmatamento ilegal de madeiras no Pará.
Além da ação criminosa de madeireiras, as quais contam com a benevolência de políticos, os dados coincidem com o aumento do garimpo ilegal nas terras indígenas, como vem ocorrendo em Roraima, onde imensas áreas são destruídas pelas dragas de exploração de ouro que avançam no meio das florestas até então intactas, ao lado de aldeias Yanomami.
Os dados coincidem exatamente com a falta de uma política ambiental do atual governo. Assim que assumiu, o governo enfraqueceu as estruturas de todos os órgãos de fiscalização e vigilância, bem como da Fundação Nacional do Índio (Funai), os quais foram sucateados e seus servidores experientes demitidos.
Somam-se a isso as declarações favoráveis ao garimpo e a clara demonstração do governo de afrouxar as regras ambientais e de reduzir direitos indígenas por meio de projetos de lei que tramitam no Congresso, os quais caminham acelerados enquanto o país está com a atenção desviada para a pandemia e a crise política e financeira.
Esse foi o sinal verde que incentivou a sanha de empresários de garimpo a invadirem terras indígenas em todo o país e grandes madeireiras a aumentarem seus negócios ilícitos na Amazônia, os quais contam geralmente com apoio explícito de políticos e governos de cada região.
Um exemplo claro foi o escândalo em que se envolveu o então ministro da Justiça, que não só dava apoio como agia para facilitar a exportação de madeira para os Estados Unidos extraída ilegalmente da Amazônia. Dois senadores de Roraima acabaram citados sob a alegação de que foram a Brasília interceder pela madeireira flagrada em uma operação da Polícia Federal.
A ação do garimpo ilegal também conta com forte apoio político, bastando lembrar que um avião em nome de um senador roraimense foi apreendido durante operação da PF no combate ao garimpo ilegal na Terra Indígena Raposa Serra do Sol. Sem contar que deputados estaduais realizaram uma audiência pública em flagrante apoio a ação garimpeira na Terra Indígena Yanomami.
A situação no Estado de Roraima só não está pior porque estamos entrando no terceiro ano consecutivo sem uma estiagem rigorosa, o que faz com que as chuvas aliviem as queimadas descontroladas e impeçam os grandes incêndios florestais. Mas, se o verão se intesificar nos próximos meses, teremos um cenário muito preocupante.
Se o Governo Federal tenta negar sua falta de política ambiental, a situação do Estado de Roraima é exemplar para explicitar o que está ocorrendo no país em relação à questão ambiental. E a tendência é piorar, pois as ações contra o garimpo ilegal não têm surtido efeito, assim como as madeireiras avançam sob a benevolência dos políticos.
Enquanto isso, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) deu uma declaração, em Dubai, que mostra seu total desconhecimento sobre a Amazônia, ao afirmar que as matas não pegam fogo porque se tratam de florestas úmidas. Só aí podemos imaginar na grande enrascada em que o país se meteu…
*Colunista