Os dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2024 indicam crescimento de mortes violentas intencionais em seis estados brasileiros, no entanto, em 18 unidades da Federação taxas ficaram acima da média nacional, entre elas Roraima. Diante da criminalidade que vem sendo registrada no Estado, os dados não são necessariamente uma surpresa.
Nesta categoria estão incluídos os homicídios dolosos, os feminicídios, os latrocínios, as lesões corporais seguidas de mortes, as mortes de policiais e as mortes decorrentes de intervenção policial, que é um termômetro para a mensuração dos níveis de violência do Brasil, independentemente do tipo penal ou da legitimidade de cada ocorrência registrada.
A estatística sobre a letalidade policial apenas corrobora com a realidade que vivemos atualmente. Inclusive, na manhã desta segunda-feira, a Polícia Civil desencadeou uma operação que teve como alvo três policiais militares, um na Capital e outro no Município de Pacaraima, na fronteira com a Venezuela, acusados de vários crimes.
Os policiais alvos de mandados de prisão, além de busca e apreensão, são investigados por integrar um grupo suspeito de torturar, roubar e sequestrar garimpeiros, cuja investigação começou lá atrás, há três anos, quando um ex-policial foi preso sob acusação de matar 12 pessoas, cujo desdobramento foi o caso de outros três PMs que tentaram resgatar uma aeronave que dava apoio ao garimpo ilegal, em que um deles morreu.
A operação policial de ontem traz um dado não menos preocupante do que já se sabe, pois com os policiais militares presos foram apreendidos materiais usados em espionagem, o que revela a contaminação da instituição policial por agentes do Estado cooptados pelo crime organizado e pelo narcogarimpo. Logo, os números do Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2024 são o retrato fiel da criminalidade do Estado com envolvimento de PMs.
As mortes decorrentes de intervenções policiais em serviço e fora dele, apontadas no Anuário, corroboram as denúncias da existência de grupo de extermínio e milícia formado por policiais. Em 2022, foram registradas 10 mortes por ação de policiais, enquanto em 2023 esse número subiu para 14 vítimas. A maior parte dessas mortes ocorreu na Capital, sendo 6 no ano de 2022 e o total de 13 vítimas no ano de 2023.
Infelizmente, zero surpresa, pois o Mapa da Segurança Pública 2024, que se refere aos dados do ano de 2023, já mostrava essa alarmante realidade. Conforme os dados, dos 13 estados onde mortes por ação de policiais aumentou no último ano, Roraima se destacou de longe, com alta de 225%, passando de 4 mortes, em 2022, para 13 mortes, em 2023. É um número muito acima da média nacional.
As operações desencadeadas pela Polícia Civil são importantes para desratizar a criminalidade que contamina uma pequena parte dos quadros da Polícia Militar. Essa é a importância divulgação das estatísticas, para que a sociedade tenha a real noção da realidade e, desta forma, possa cobrar ação por parte das autoridades. Números não mentem. Esconder dados só contribui para impedir o combate à criminalidade.
*Colunista