JESSÉ SOUZA

O aperto do governo venezuelano que provoca reflexos na criminalidade em Roraima

Militares e policiais da Venezuela durante operação para retomar a prisão de Tocorón | Foto: YURI CORTEZ / AFP
Militares e policiais da Venezuela durante operação para retomar a prisão de Tocorón | Foto: YURI CORTEZ / AFP
Militares e policiais da Venezuela durante operação para retomar a prisão de Tocorón | Foto: YURI CORTEZ / AFP

O governo venezuelano decidiu retomar o controle da prisão de Tocorón, no dia 20 passado, presídio este que estava sob o controle do crime organizado de lá, cujo poder se concentrava nas mãos da facção chamada Trem de Aragua, cujos membros também atuam em Roraima. Aragua é uma província localizada no centro-norte da Venezuela, a cerca de 60 quilômetros de Caracas.

Esta coluna já tratou outras duas vezes sobre o Trem de Aragua com base no farto material publicado pela jornalista investigativa e pesquisadora venezuelana Ronna Rísquez. Ela é autora do livro “O Trem de Aragua: o grupo que revolucionou o crime organizado na América Latina”. O livro cita que a facção venezuelana passou a atuar em Roraima em parceria com os criminosos brasileiros instalados por aqui.

A escritora cita como fonte um relatório do Ministério Público de Roraima (MPRR), que confirmara a existência de uma aliança entre a facção paulista Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Trem de Aragua, que avançou seus tentáculos no garimpo ilegal no Sul da Venezuela e, por conseguinte, não foi difícil adentrar ao garimpo ilegal brasileiro na Terra Yanomami.

Diante dos recorrentes crimes violentos em Boa Vista, é possível afirmar que os bandidos têm agido na região Sul da Capital, com destaque aos bairros 13 de Setembro, São Vicente e Calungá, onde corpos decapitados são desovados em via pública, dentro da disputa por poder e acerto de conta, cujas vítimas são venezuelanos.

A facção venezuelana explora ao menos 20 atividades, incluindo extorsão, sequestro, roubo, fraude, garimpo ilegal e contrabando de sucata, bem como homicídios, tráfico e lavagem de dinheiro, tráfico de pessoas, contrabando de imigrantes e venda de armas a outros grupos criminosos.

É por isso que se tornou importante a atitude da Venezuela ao fazer uma operação para retomar o controle daquela prisão comandada pelo crime organizado, com tentáculos no Chile, Colômbia e Peru, bem como no Norte brasileiro, especialmente no Estado de Roraima. Agora, resta as autoridades brasileiras começarem a agir para fechar o cerco a esta facção venezuelana que tem aterrorizado na Capital roraimense, especialmente no entorno dos abrigos.

O momento se apresenta oportuno, uma vez que Roraima se tornou uma rota de atuação dos criminosos venezuelanos e facilmente também pode se tornar uma rota de fuga de mais bandidos, diante da operação de retomada do presídio em curso na Venezuela. Então, já passou da hora de o governo brasileiro buscar colaboração com o governo venezuelano a fim de combater o crime organizado transnacional.

Ao mesmo tempo, também é necessário entendimentos visando amenizar a situação dos imigrantes que chegam em massa ao Estado, os quais passam a morar na rua, se tornando alvos fáceis da cooptação para o mundo do crime, especialmente de jovens. O que não pode é continuar esta realidade de silêncio e omissão das autoridades em relação aos problemas que se avolumam a cada dia. Se a situação sair do controle, todos pagaremos um preço bem alto.

*Colunista

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