Jessé Souza

O botao do curtir e da soberba 04 03 2015 690

O botão do curtir e da soberba – Jessé Souza* Tem-se tornado comum ver, nas ruas de Boa Vista, carros com mensagens no vidro traseiro que chamam a atenção. As mais comuns são as de cunho religioso, a exemplo daquela afirmando que a qualquer momento o condutor será arrebatado aos céus. Ou aquela que diz que o carro foi fruto de muita oração. Ou a que pede para não ser invejado, pois foi obra de Deus. Podem parecer inocentes, mas tais frases são carregadas de soberba, que é um sentimento de superioridade. A soberba individualmente pode ser considerada apenas um defeito ou, no caso dos cristãos, um pecado. Porém, quando a coletividade é acometida por este mal, provoca racismo, corporativismo, elitismo, crença de povos escolhidos ou eleitos, surgindo grupos que afirmam ser superiores. A soberba tem se expandido de duas formas nas redes sociais. Uma delas é de pessoas que se arvoram superiores na política por defenderem um pensamento ou porque combatem um político ou um grupo partidário. A soberba aflora tanto que quem não pensa da mesma forma que aquela pessoa ou aquele grupo é tachado de idiota ou retardado. O uso da soberba pela manipulação, exaltação do orgulho e da pretensão de superioridade pode mobilizar conflitos armados, pois tais sentimentos de uma massa humana desprovida de sendo crítico podem servir aos interesses políticos, econômicos, ideológicos ou religiosos. E estou me referindo tanto de esquerda quando de direita, como vem ocorrendo atualmente nas redes sociais. A manipulação ficou mais fácil na internet porque as pessoas comuns passaram a ter a necessidade de se exibir, de tentar mostrar aquilo que não são, de divulgar situações irreais como forma de despertar a inveja e a admiração. Ou de criar uma falsa realidade a fim de suprir uma necessidade de aparecer, de dizer que também existe neste mundo do exibicionismo virtual. Fingir ser o que não é nas redes sociais não passa de uma forma de se sentir superior. A soberba desperta nas pessoas a necessidade de se considerarem especiais, as fazendo buscar o fingimento como forma de realização pessoal, tudo por uma “curtida” ou um “compartilhamento”, que é um botão que aciona a comichão do exibicionismo. E ainda tem o soberbo que, não conseguindo o destaque almejado, finge-se de humilde ou que se coloca como “burro”, fazendo questão de repetir sempre que “não sabe de nada” ou que “só sei que nada sei”, como forma de arrancar elogios pela suposta “sandália da humildade”. Se não estivermos atentos a estes comportamentos, observando que os oportunistas estão prontos para manipular a soberba, acabaremos sendo massa de manobra. Não esqueçamos que Hitler conseguiu seu intento manipulando a soberba das pessoas pregando a superioridade da raça ariana. *Jornalista [email protected]