Jessé Souza

O buraco e mais em cima 6061

A reviravolta no caso sobre a morte do policial rodoviário federal amazonense, executado por policiais civis de Roraima sob acusação de integrar o tráfico de droga interestadual, mostra o que já foi dito aqui: a corrupção entranhada dentro do poder, da polícia à antessala dos mais altos órgãos. Depois que a Polícia Civil divulgou nota acusando o PRF morto de dar apoio ao tráfico, a Polícia Federal revelou que, na verdade, o policial amazonense foi vítima de um grande esquema que envolveria três agentes e um delegado da Polícia Civil, além de gente com influência na sociedade local.

Começa a se desenhar o que já era uma suspeita. A onda da violência que se abate sobre o Estado, mostrando o avanço do crime organizado, só é possível porque há agentes do Estado em conluio com o crime, em especial o tráfico de drogas, que financia o crime e é responsável por cooptar jovens para facções criminosas e eliminar os rivais e aqueles que não se enquadram em suas regras.

Conforme vem desenrolando os fatos, depois dos vídeos de jovens de ambos os sexos sendo executados com a cabeça cortada, agora são corpos esquartejados dentro de sacos plásticos que desafiam o poder constituído. E não sabemos aonde isso irá parar diante dos indícios de contaminação da polícia e de outros agentes do poder público.No fim de semana, a Polícia Civil reuniu a imprensa para dizer que “vai cortar na própria carne”, como resposta às investigações assumidas pela PF no caso do policial amazonense morto. Mas entre o discurso e a prática há uma distância muito grande, pois não se combate a corrupção dentro da polícia sem haver vontade política para ir até as últimas consequências. O buraco não é mais embaixo, é mais em cima mesmo.

O que o cidadão de bem deseja é que realmente as pessoas sérias dentro das instituições policiais e dos órgãos do governo estejam dispostas a fazer essa faxina. Porém, como o crime anda muito bem organizado, diante de um poder que se mostra fragilizado, além da banda podre dentro das instituições, fica difícil crer numa resposta eficiente e ampla.

Então, é essencial que a investigação comandada pela Polícia Federal desvende o caso do PRF e desarticule essa possível célula do crime que contava com apoio de policiais e gente influente da sociedade. Quem sabe esse seja o passo importante para começar a mudar o quadro de desalento criado pelo tráfico de droga que financia o avanço do crime que se mostra institucionalizado no Estado.

*[email protected]: www.roraimadefato.com.br