AFONSO RODRIGUES

O Cação virou Tubarão

O Cação virou Tubarão

Afonso Rodrigues de Oliveira

“A vida é para quem topa qualquer parada. Não para quem para em qualquer topada”. (Bob Marley)

Cada um vive sua vida, e só. Mas, ele sabia, mesmo sem saber, que iria viver a vida do outro. Ele era um garotinho. Estava na praia, pela manhã. De repente chegou a casa, correndo e gritando:

– Mãe… mãe… olhe, mãe, olhe o peixe que eu pesquei! Que eu pesquei não, mãe, que eu peguei! Ele estava brincando mãe, e eu peguei.

– Tudo bem, tudo bem… tudo bem. Foi ótimo o que você fez, salvou um peixinho. Só que esse peixinho é um Cação. E um Cação, filho, é um tubarão pequenininho. Mas quando ele crescer vai dar trabalho, e seu pai não vai gostar nada disso.

– Deixa comigo, mãe… deixa comigo. Só preciso saber onde vou colocá-lo para ele não ir embora.

Sabendo que a cria não iria demorar muito, a mãe conseguiu uma vasilha enorme, enchei-a de água, e colocaram o Cação na água. O garoto passava o dia todo brincando com o Cação. Os dois se familiarizaram, e um, praticamente já entendia o que o outro dizia e queria. Mas o Cação começou a crescer e se movimentar com mais arrufo. Com a barbatana ele jogava água para fora com certa força. E foi aí que a mamãe começou a se preocupar e a alertar o filhinho para o perigo. O Tubaraõzinho estava se formando, e não havia espaço suficiente pra ele. O garoto também já começava a desconfiar. O Cação quase tubarão se agitava sempre no mesmo horário. E a cada dia ele se agitava mais. Já sabiam que ele iria ser Tubarão, só não entendiam era por que a agitação vinha sempre no mesmo horário.

O garoto começou a conversar mais com o Cação e começaram se entender. Mas, só mentalmente. O garoto falava e o cação-tubarão entendia. Mas, ele uivava e o garoto não entendi coisa nenhuma. Mas fingia entender. Até que um certo dia, o garoto percebeu que o Cação se agitava sempre que a mamãe ligava o televisor. Desconfiado o garoto começou a observar e descobriu que era isso mesmo. Sempre que a mãe ligava o televisor, o Cação se agitava, pulava na água e jogava muita água para o ar. O garoto ficou encucado, mas não queria alertar a mãe porque, com certeza, ela iria levar o cação de volta para o mar.

Até que certo dia o garoto entendeu, e entender o que o Cação dizia no rosnar. E foi aí que ele entrou na casa rindo e falou com a mãe:

-Mããããe… acabei de entender o comportamento do Cação. É que quando a senhora liga o televisor para assistir ao “Programa Educação”, o Cação entende que a apresentadora está dizendo que “O PROGRAMA É DO CAÇÃO”. Aí ele fica esperando que mandem o programa pra ele. E ninguém manda, aí ele fica brabo. Pense nisso.

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