Jessé Souza

O caso da iguana e a esperanca do cidadao em ver seus impostos bem aplicados 11955

O caso da iguana e a esperança do cidadão em ver seus impostos bem aplicados Jessé Souza*

Está saindo muito barato o caso da pintura da iguana que se derreteu em menos de seis meses pintada em um muro do Parque do Rio Branco. O mural foi contratado pela Prefeitura de Boa Vista de um renomado artista internacional, Eduardo Kobra, pelo valor de R$400 mil, com dispensa de licitação sob o argumento de que somente ele poderia executar tal obra. O Tribunal de Contas do Estado (TCE) determinou apenas que a pintura seja refeita sem qual ônus aos cofres públicos municipais. Porém, tem algo mais a ser investigado nesse contrato, pois o artista jamais colocou os pés em Boa Vista, mesmo que a dispensa de licitação tenha sido justamente porque seria uma obra exclusiva pintada por aquele artista. O artista contratado enviou uma equipe sob a alegação de que a execução da obra foi feita de forma remota. Ou seja, não cumpriu a obrigação pela qual ele foi contratado sem licitação e enviou provavelmente estagiários, pelo que se viu no erro grosseiro de preparar a base no muro que iria receber a pintura.  E mais: a obra custou mais que o dobro do valor recebido por 25 artistas locais que foram contratados para também pintarem suas obras em outro muro e nas mesmas condições. A princípio, todos pensavam que a pintura do renomado artista seria um painel vertical no mirante de 100 metros que foi erguido naquele parte. Mas não. Foi tão somente um muro. O essencial que o caso seja rigorosamente averiguado, pois é público e notório que a administração anterior tinha interesse político em inaugurar aquela obra mesmo inacabada. Pode parecer muito pouco R$400 mil, mas não para artistas locais que nunca são prestigiados como deveriam, inclusive muitos ficaram desempregados durante essa pandemia. A propósito, Boa Vista se tornou um paraíso para empresas paulistas ganharem dinheiro (por coincidência, Kobra mora em São Paulo). A CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do Lixo vai investigar justamente uma empresa paulista, a Sanepav, que sozinha já fatou quase meio bilhão de reais dos cofres públicos municipais.  O cidadão que paga os impostos que mantém os governos funcionando quer saber se seu dinheiro está sendo bem aplicado. Não interessa se R$400 milhões ou R$400 mil. É preciso enterrar o passado em que os nossos governantes esbajavam com seus gastos sem ser cobrados ou fiscalizados.  Que a iguana que se derreteu em quatro meses, no novo “cartão postal” de Boa Vista, e a CPI do Lixo possam representar essa nova realidade que o contribuinte sempre almejou. É o mínimo que as autoridades podem fazer para moralizar o bem público. *Colunista