O drama de uma magistrada que revela a situação de insegurança a que chegamos Jessé Souza*
A matéria do El País, intitulada “Três vidas em perigo”, que narra a realidade do país da impunidade com uma juíza, um ativista e um jornalista jurados de morte por criminosos por quererem fazer justiça, também revela a face da insegurança em Roraima. A magistrada trata-se de uma juíza roraimense, Joana Sarmento de Matos, da Vara de Execuções Penais de Boa Vista.
A história do drama da juíza pode ser tratada como o reflexo da insegurança que tomou conta do Estado de Roraima ao longo dos anos devido à ineficácia da política de segurança pública desde os governos anteriores. A atual administração faz muito alarde com propaganda, mas a eficácia do programa policial implantado ainda não pode ser medida no momento.
Porém, é reveladora a situação da magistrada, que vem sendo ameaçada há seis anos, desde quando começou a atuar no Forum Criminal de Boa Vista, hoje sendo obrigada a usar colete à prova de balas e passou a ser vigiada por dois seguranças armados com fuzis durante 24 horas por dia.
Quando começou a ser ameaçada, os criminosos ainda não estavam organizados. Depois, os recados partiam das facções Primeiro Comando da Capital (PCC) e Comando Vermelho (CV), que entraram numa disputa sangrenta que já protagonizou inclusive uma chacina na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo (Pamc).
Hoje, ela é jurada de morte também por uma facção venezuelana conhecida como Sindicato. Ou seja, a insegurança pública chegou a um nível que permitiu, em pouco tempo de migração desordenada, a fixação de bandidos venezuelanos, que hoje tocam o terror nos bairros da cidade e se juntaram nas ameaças a uma juíza.
A realidade da magistrada narrada pelo El País então pode ser comparada a um retrato fiel do nível de insegurança a partir do aumento da criminalidade que aumentou de forma incontrolável. Até hoje não pararam os crimes com claras evidências de queima de arquivo ou acerto de conta, mostrando que não está nada bem enquanto o governo faz festa em seus institucionais.
O fato é que ainda não temos uma política de segurança pública, de fato, uma vez que o governo, ao apresentar um paliativo chamado “Polícia na Rua”, jamais irá conseguir fazer frente às organizações criminosas que agem na cidade, pois a insegurança chegou a um nível que não será combatida somente com mais polícia na rua, conforme vem sendo frisado neste espaço.
A situação exige um programa bem mais ampla, muito mais do que envolvendo todas as forças de segurança, com investimento em investigação e inteligência. Mas, com a divisão política e partidária que domina o cenário dentro das polícias, a segurança pública jamais irá conseguir um nível de organização que faça frente a essa criminalidade dominada por facções.
O governo está investindo muito alto nesse programa, que consumirá muito dinheiro, mas não irá conseguir mudar o atual quadro de insegurança, talvez até inibir alguns tipos de crimes, mas não fazer frente às organizações criminosas, que só têm se fortalecido ao longo dos governos passados.
Por isso, será necessário muito mais que um programa temporário de governo que está em curso. Precisará de uma mobilização bem mais ampla, de poderes constituídos contra o poder das organizações criminosas. Porque o crime hoje não respeita nem magistrado, muito menos policiais na rua. E o povo é apenas um detalhe, que não tem nem como instalar cerca elétrica no muro de casa.
*Colunista