JESSÉ SOUZA

O fatiamento do crime organizado exibe força na fronteira Norte

Jessé Souza*

Não se trata de nenhuma novidade. Mas o conteúdo publicado ontem pelo UOL, de São Paulo, reforça o nível de organização do crime no Estado de Roraima, enquanto as autoridades roraimenses patinam nos mesmos erros, a exemplo do que vem ocorrendo na Divisão de Capturas (Dicap) da Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejuc), conforme foi exposto na Coluna de ontem.

Segundo a matéria, a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) divide Roraima em 19 regionais para controlar o tráfico de drogas, guardar armas de fogo, munições e expandir os seus negócios, inclusive no garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami, onde está localizada a última regional. A publicação não especifica necessariamente a terra indígena, mas há fartas informações oficiais sobre a atuação de faccionados por lá.

Com base em dados fornecidos pela Promotoria de Justiça Criminal, do Ministério Público de Roraima, a divisão geográfica foi feita de acordo com a localização dos pontos de venda de droga, conhecidos popularmente como “bocas de fumo” ou “lojinhas”, como esses locais são chamados pelos faccionados em São Paulo, onde nasceu a organização criminosa. Em Roraima, o grupo começou a se organizar em 2013.

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Boa Vista concentra cinco regionais administradas pelo PCC, pois é na Capital roraimense onde está quase 70% da população (436.591 pessoas do total de 652.713 habitantes roraimenses). Em Rorainópolis, no Sul do Estado, o segundo mais populoso do Estado, estão as regionais 09 e 015, as quais estão próximas das áreas de domínio de outras organizações, como o Comando Vermelho e facções do Norte do país, sofrendo mais influência do Amazonas.

A instalação da regional 19, no garimpo ilegal, é a ponta de lança do interesse da organização criminosa para aumentar seu poderio por meio de fornecimento de drogas nas frentes de exploração ilegal do ouro. Com as operações de desintrusão na terra indígena, o PCC estaria transferindo seus integrantes para outro local “sem a presença de agentes de segurança”.

A facção tem em torno de 1.500 membros batizados no Estado em que a maioria dos integrantes atuando nas regionais são jovens com idades entre 19 e 21 anos. Os pontos de venda de drogas possuem esquema de segurança contra ameaças de organizações rivais e ações policiais. Nesses locais existem os “guarda-roupas”, onde são armazenadas drogas, armas e munições.

A matéria do site paulista é até branda ao levantar a atuação da facção, pois existe outra matéria, do site BBC News Brasil, de 29 de maio deste ano, que relata que o PCC se associou à temida facção da Venezuela Trem de Aragua, que se espalha pela América Latina. Os bandidos venezuelanos começaram a vender armas para os criminosos brasileiros e se associaram também no garimpo ilegal a partir de 2017 e 2018.

A divulgação sobre a aliança entre o PCC e o Trem de Aragua também consta de um relatório do Ministério Público de Roraima, cujo conteúdo da matéria da BBC foi comentado aqui, nesta Coluna, no artigo intitulado “O único intercâmbio internacional que deu certo em Roraima: o crime organizado”, no dia 05 deste mês. Só mais uma prova do poder de fogo dos criminosos que atuam em Roraima até a fronteira norte.

E as autoridades roraimenses seguem caladas, pois elas sabem que o governo mal consegue disponibilizar estrutura para garantir o mínimo de policiamento extensivo nas ruas da Capital, enquanto os demais municípios vivem desguarnecidos. Se o governo perder o controle do sistema prisional, aí teremos uma situação muito mais complicada do que tão somente corpos desovados nos bairros centrais de Boa Vista.   

*Colunista

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