O grande desafio na Amazônia para o novo governo a partir do próximo ano
Jessé Souza*
A vitória de Lula (PT) para comandar o país a partir do próximo ano representa uma esperança de que seja freada o mais breve possível a invasão das terras indígenas por garimpeiros, cuja atividade ilegal, ainda que seja contida, irá deixar um passivo ambiental sem precedentes na Amazônia, em especial nas bacias hidrográficas do Estado de Roraima e na vida dos povos indígenas Yanomami. As investigações da Polícia Federal têm apontado que a exploração do garimpo ilegal se tornou uma organização criminosa sem fronteiras.
Somente um dos grupos investigados já movimentou R$16 bilhões em dois anos, proporcionando ápenas para um dos investigados R$1,1 bilhão de lucro durante um ano. É o maior crime organizado com poder de mando não apenas regionalmente, mas com tentáculos em vários estados brasileiros. É uma atividade altamente lucrativa porque não paga impostos, explora mão de obra de maneira análoga aos tempos de escravidão e que se associa a outras atividades ilegais. Trata-se de uma aberração para qualquer país desenvolvido.
Além disso, a política indigenista do governo precisa ser retomada urgentemente, com a reestruturação da Fundação Nacional do Índio (Funai) para que reassuma o seu papel, hoje transformada em um órgão obsoleto e contra os interesses dos povos indígenas, sob a intervenção de um militar com ordens expressas para travar quaisquer ações direcionadas aos indígenas. Para se ter uma ideia no que órgão se transformou, os interesses dos ruralistas passaram a ser atendidos em prejuízo aos direitos dos povos originários.
Da mesma forma, os órgãos fiscalizadores e ambientais também precisam retomar seus papéis para frear a sanha de ilegalidade de madeireiros, grileiros, desmatadores, saqueadores e incendiários, os quais ganharam força diante do desmantelo dos órgãos ambientais e da falta de uma política ambiental, todos incentivados pela posição do atual presidente em favor deliberadamente do garimpo em terras indígenas.
Não se pode começar a reestruturar o Brasil sem antes dar um basta no crime organizado que se apoderou da Amazônia vorazmente nos últimos quatro anos, tendo o garimpo ilegal bilionário como ponta de lança, inclusive se associando a facções criminosas em área de fronteira delicada dentro da Terra Indígena Yanomami, onde aeronaves cruzam a fronteira desvigiada.
Então, não se trata apenas de uma questão de política ambiental e de uma posição contra o garimpo ilegal ávido por evasão de divisa, mas de soberania do país, onde a ilegalidade se fortaleceu a partir de uma Venezuela em frangalhos, cuja imigração desordenada também tem ajudado a engrossar todos os tipos de ilegalidade e crimes, a exemplo de uma facção venezuelana instalada em Roraima sob o olhar míope de nossas autoridades.
Esse é o grande desafio na Amazônia a ser enfrentado pelo novo governo que irá assumir a partir de janeiro de 2023. Obviamente que ainda restam outros gargalos que impedem o desenvolvimento da região, especialmente do Estado de Roraima, os quais precisam continuar sendo atacados pelos governos em todos os níveis.
Os políticos têm muito o que fazer, a começar pela situação da BR-174, considerada nosso cordão umbilical, mas largada ao descaso severo. Isso só para lembrar o tamanho desse descaso governamental e político com o Estado de Roraima nesses últimos quatro anos, enquanto os governantes e políticos brigavam em favor do garimpo ilegal e dos interesses dos ruralistas.
*Colunista