Desde o tempo de Território Federal, os discursos políticos sempre colocaram Roraima como uma terra promissora pela sua localização geográfica, perto do Caribe e dos Estados Unidos, o que iria garantir portas abertas para a exportação e integração comercial com os países vizinhos, Guiana e Venezuela.
Décadas se passaram, Roraima foi transformado em Estado e a única integração que funciona, de fato, é a do crime organizado brasileiro com o crime organizado venezuelano, que faz intercâmbio em Boa Vista no tráfico de drogas, dividindo territórios, e que se uniu nas atividades no garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami, conforme apontam as investigações, com ramificações em outros estados brasileiros.
Quem acha isso um exagero então tem que prestar atenção nas informações repassadas à imprensa ontem, pela Polícia Federal (PF), ao deflagrar a operação Oceano Azul visando combater um grupo de tráfico internacional de drogas e lavagem de dinheiro que movimentou mais de R$ 50 milhões entre 2022 e 2023. Não por acaso, o Estado de Roraima está no meio das investigações que apontam um complexo esquema de envio de cocaína para a África e a Europa.
Foram cumpridos 15 mandados de prisão e 30 de busca nos estados do Pará, Roraima, Amazonas, Ceará, São Paulo, Rio Grande do Sul e Minas Gerais, além do no Distrito Federal, bem como 27 mandados de sequestro de bens e 15 ordens judiciais de suspensão de atividades econômicas expedidos pela 4ª Vara Federal da Seção Judiciária do Pará.
O grande detalhe divulgado pela PF é que as investigações apontam a abertura de uma instituição bancária pelo grupo criminoso com a finalidade de tentar legitimar e lavar o dinheiro oriundo das atividades criminosas do grupo. Ou seja, Roraima sempre está conectado nacionalmente quando se trata de organizações criminosas que atuam no tráfico internacional de drogas, garimpo ilegal e outros crimes.
É preocupante saber das ramificações criminosas que atuam em Roraima, principalmente sabendo que tem até vereador sendo investigado sob suspeita de ter ligação com o tráfico de drogas. E ainda pelos acontecimentos de um passado bem recente apontando a existência de milícias formadas por policiais que estariam dando apoio a grupos com atuação no garimpo ilegal.
Ainda que não haja uma relação direta entre os fatos, é muito estranha a informação de um mirabolante esquema de arapongagem supostamente arquitetado por membros do governo para espionar deputados. Se na Assembleia Legislativa praticamente não há oposição, então por que fazer monitoramento? Diante dos intercâmbios criminosos que se consolidaram em Roraima, é no mínimo muito suspeito tudo isso.
Sabe-se que crime organizado e corrupção na política sempre andam de mãos dadas. E isso pôde ser comprovado, mais uma vez, no desfecho do caso do assassinato da vereadora Mariella Franco, no Rio de Janeiro, cuja execução foi uma articulação de criminosos de milícias e da política.
E não podemos esquecer que um presidente da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), ao vir ao Estado na década de 2000, afirmou que Roraima era “terra fértil para a corrução”. E a fala continua bem atual.
*Colunista