O isolamento em Roraima e o desmanche ambiental montado no país
Jessé Souza*
O flagrante isolamento do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na cúpula do G-20, que é a conferência dos 20 países mais ricos do mundo, realizada em Roma, na Itália, mostrou a real situação do Brasil em relação à confiança que o mundo tem de nosso país.
Sem ter com quem falar ou se reunir, foi conversar com os garçons que serviam as autoridades durante o evento, ficou rabiscando papeis durante a reunião e mandou segurança atacar jornalistas que tentava entrevistá-lo. E decidiu ficar por lá mesmo, passeando, enquanto lideranças mundiais foram para a COP26, a Conferência das Nações Unidas para Mudanças Climáticas, em Glasgow, na Escócia.
Esse isolamento não foi algo que surgiu do nada. Vem sendo construído desde o início de seu governo, quando nomeou um ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que acabou se demitindo após ser investigado e denunciado pela Polícia Federal por contrabando internacional de madeira na Amazônia.
Nunca existou uma política ambiental de governo. O que começou a ser colocado em prática foi o desmonte dos órgãos ambientais e o flagrante apoio do então ministro a uma grande madeireira, a qual foi alvo de uma operação da PF, no Amazonas, quando ocorreu uma das maiores apreensões de madeira ilegalmente extraida do Pará, a qual estava em trânsito pelo AM para ser enviada aos Estados Unidos.
Paralelo a isso, com as seguidas declarações de apoio ao garimpo, aumentou consideravelmente a garimpagem ilegal nas terras indígenas, em especial na Terra Yanomami, em Roraima, onde o desmatamento avança vertiginosamente e ameaça os principais mananciais de água potável da região Norte.
Na COP26, o governo brasileiro apresentou sua nova meta para redução dos efeitos do gás-estufa: a neutralização das emissões de carbono até 2050 e um corte de 50% até 2030. São números muitos selhantes aos que foram apresentados pelo governo anterior, o que leva a pensar que houve apenas um “melhoramento” da política de seu antecessor.
Do jeito que o Brasil tem tratado os órgãos ambientais, com o desmanche do serviço de fiscalização, e a lentidão para reagir ao garimpo ilegal no só na Amazônia, mas em todo o país, dificilmente a meta será alcançada, representando apenas números para dizer que o país está cumprindo com seu dever de casa.
Os projetos apresentados pelo Governo Federal no Congresso também dizem muita coisa sobre esta realidade, pois desde o início do governo vem sendo apresentadas propostas para facilitar a ação de garimpo, madeireiras e grileiros dentro de terras indígenas, além de projetos para facilitar a emissão de licença ambientais para grandes produtores do agronegócio.
O Brasil tem um potencial muito rico no meio ambiente, de recursos natuais, os quais podem ser aproveitados para geração de riquezas, desde que dentro das normas e da legislação ambiental vigentes. Mas os políticos não querem fazer da forma correta. Basta lembrar a situação da obra do Linhão de Tucuruí, na Terra Indígena Waimiri-Atroari, onde o governo e os políticos insistem em não querer reconhecer os direitos dos indígenas às contrapartidas.
O próprio garimpo ilegal é outro desses exemplos, onde inclusive o Governo de Roraima sancionou, este ano, uma lei estadual para abrir o garimpo com uso de mercúrio fora de terras indígenas, em flagrante ilegalidade, lei esta derrubada pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
O governo brasileiro já fará muito se adotar uma política ambiental de verdade, ainda que copiando metas não alcançadas no governo anterior. Mas, pelo que tem sido apresentado, tentou-se emplacar um verdadeiro desmanche ambiental sob a justificativa de que o governo estava lutando contra ideologias mundiais de esquerda.
A consequência disso é que temos um governo cada vez mais acuado, que não fez a básica lição de casa na questão do meio ambiete. E quem paga o ônus dessas ações erradas é a população. A Amazônia está sendo atacada por garimpeiros, neste momento, enquanto todos corremos riscos, indígenas e a sociedade envolvente.
*Colunista