O melhor que se faz é promover o enterro de uma CPI que nada fez em três anos
Jessé Souza*
A menos pior das situações é que a Assembleia Legislativa enterre de vez a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga o preço exorbitante cobrado pela energia elétrica consumida pelos roraimenses. Instalada em outubro de 2019, se até hoje a CPI não chegou à conclusão alguma, não será agora, em fim de mandato, que irá apontar alguma coisa de interesse da sociedade, a não ser a incompetência ou o descomprometimento por parte de nossos políticos.
No mínimo, é vergonhoso que em três anos os deputados ainda tentem prorrogar a entrega de um relatório que jamais irá apontar sequer os reais motivos das constantes faltas de energia e que nunca conseguirá mostrar ao consumidor roraimense os reais motivos dos constantes apagões, principalmente nos municípios do interior, onde os cortes de energia são tão corriqueiros que o “normal” é não ocorrer blecaute ao menos uma vez por semana ou a qualquer chuva mais forte.
A CPI da Saúde,
também criada em 2019 e encerrada no final do ano passado, cumpriu o papel de encobrir a corrupção sistêmica no setor da saúde estadual, inclusive ignorando que dois deputados foram citados por um ex-secretário, o qual também relatou a ingerência do então chefe do Gabinete Civil e a ação do irmão do governador que tentou intermediar o pagamento de uma empresa que já estava sendo investigada por irregularidades em contrato com a Secretaria Estadual de Saúde (Sesau). Mas tudo isso foi ignorado pelos membros da CPI.
Então, não é sensato esperar que uma CPI aponte algo sobre a situação da crise energética em Roraima, um tema que está bem acima da compreensão de um cidadão comum, sabendo que nem os políticos com mandato conseguem entender os meandros da política energética que não é capaz de administrar o destravamento das obras do Linhão de Guri entre Roraima e Amazonas. Da mesma forma que os políticos não conseguem abrir a caixa-preta da saúde pública, inclusive onde dois senadores são investigados sob acusação de desvio de recursos da saúde para o combate à pandemia, um deles flagrado com dinheiro na cueca.
Na verdade, investigar a situação da crise energética no Estado foi apenas um engodo pregado há três anos, da mesma forma que a CPI da Saúde foi administrada para não dar em nada, a não ser servir de palco midiático, tal qual fazem com a defesa do garimpo ilegal, em que os discursos servem apenas para ludibriar a opinião pública e de palanque eleitoral para aqueles que buscam um mandato a fim de defender os interesses de empresários que faturam alto com uma atividade ilegal.
Há um conluio acima da compreensão dos pobres mortais, os quais são levados a crer que uma CPI possa levar a algo realmente produtivo em favor da sociedade. Basta observar que os empresários do garimpo ilegal sempre falam em criar uma CPI das ONGs, tudo apenas para criar um fato político e um palco midiático que tem a finalidade de engabelar a opinião pública. Então, enterrar uma CPI é mais sensato e muito mais econômico para os cofres públicos.
*Colunista