O misterioso caso da aeronave que precisa ser bem esclarecido pelas autoridades
Jessé Souza*
A morte de um policial militar e do provável envolvimento de mais dois PMs no caso da tentativa de roubo de um avião que supostamente dava apoio ao garimpo ilegal, na região do Passarão, zona rural de Boa Vista, apenas serve para confirmar o que vem sendo comentado nesta coluna há um certo tempo: o garimpo deixou apenas de ser ilegal perante a legislação brasileira, com trabalhadores humildes buscando a sobrevivência, para se tornar uma atividade dominada por grandes empresários e pelo crime organizado – ou por ambos ao mesmo tempo.
Só a título de informação: o policial morto, ao ser atropelado pelo avião que tentava decolar, mas não conseguiu devido ao excesso de peso,
já havia sido afastado do Batalhão de Operações Especiais (Bope) pelo Comando da Polícia Militar após um homicídio de um homem por causa do envolvimento com o garimpo ilegal. Esse é apenas mais um fato dentro desse caso que precisa ser bem esclarecido pelas autoridades, pois as suspeitas indicam PMs em conluio com um bando tentando roubar um avião que provavelmente dá apoio ao garimpo ilegal.
O que chama a atenção, neste caso específico, é que áudios afirmam que policiais militares são contratados como segurança por empresários do garimpo,
em flagrante ilegalidade em que policiais de folga prestam serviços indevidamente para uma pessoa que comanda uma atividade ilegal. A prática, além de incompatível com a atividade policial, acaba revelando a promiscuidade de agentes do Estado com a atividade do garimpo ilegal, o que pode indicar algo bem mais preocupante diante do que se tornou essa atividade com ramificações nas terras indígenas do lado brasileiro e em áreas protegidas do lado venezuelano.
Só o fato de um empresário garimpeiro contratar policiais de folga para fazer a segurança de seu negócio já mostra o nível do crime organizado em torno do garimpo. As investigações da Polícia Federal vêm apontando movimentações financeiras milionárias por empresários de outros estados, com apoio de empresários locais, inclusive com um deles guardando verdadeira fortuna em dinheiro no cofre de casa, desfilando não apenas com camisa em verde e amarelo, mas com helicóptero nas cores da Bandeira nacional em via pública para defender o garimpo.
Da forma que está, não há como se falar em apoiar a legalização do garimpo, porque defender o que aí está é ser a favor do crime organizado, da lavagem de dinheiro, da evasão de divisas, da exploração da mão de obra de garimpeiros, da morte de indígenas, da destruição do meio ambiente e de outros crimes que advém das atividades ilegais, a exemplo da morte da morte de um PM e do possível envolvimento de mais dois cooptados pelo mundo do crime.
É preciso que a sociedade faça uma profunda análise sobre toda essa realidade que está vindo à tona. E ainda há mais um fato a ser considerado, que é a questão da remuneração de policiais, os quais são levados a fazer segurança particular ou privada. Eles não estão ganhando o suficiente a ponto de precisar complementar a renda de sua família? Ou o dinheiro oferecido é tentador, fazendo com que profissionais arrisquem não apenas sua conduta profissional e sua dignidade, mas também suas próprias vidas?
O fato é que o garimpo ilegal, que não paga imposto e não assume os ônus ambientais e humanos envolvidos em suas atividades ilícitas, obviamente tem dinheiro sobrando para assediar e cooptar não apenas policiais, mas políticos e outras pessoas com destaque dentro da sociedade para defender e apoiar o que é flagrantemente ilegal e nefasto para o futuro de toda sociedade. Neste jogo, os donos do garimpo ficam com as cifras milionárias, enquanto os que são cooptados a defender as atividades ilícitas ficam com o “ouro tolo”.
*Colunista