O país precisa se livrar da política do mito em um pedestal e construir uma escada de volta à luz
Jessé Souza*
Como sequência a respeito do tema abordado no artigo de ontem, que cita o extremismo que está acometendo alguns setores da sociedade e alimentando o fortalecimento do neonazismo em adolescentes, é essencial que os políticos reconstruam a direita brasileira para que eles possam estabelecer uma oposição ao governo petista dentro do que permite a democracia e dos verdadeiros anseios da sociedade brasileira.
O passo principal é fugir urgentemente do bolsonarismo, cuja desgraça começou com os adeptos colocando um mito no pedestal a ser seguido, que começou a chocar o ovo da serpente do extremismo. É importante destacar que nem todos que votaram no PT são petistas, lulistas ou lulapetistas, mas porque a candidatura de esquerda era a única que poderia (e assim foi) tirar o país da perigosa vereda aberta no coração de muitos.
Quem era adolescente quando outro mito ascendeu na política, o caçador de marajás Fernando Collor de Melo, sabe como mentes jovens podem ser facilmente manipuladas por surto cívico qualquer alimentado pela mídia ou, na realidade atual, pela tempestade da internet como replicadora de muito embuste ou mentiras muito bem elaboradas.
E todos sabemos no que deu, quando o mito daquele passado no fim da década de 1980 mostrou sua verdadeira face entre passeios de jetski e lancha. Um fato curioso é que Collor sequer aparecia nas pesquisas eleitorais em janeiro de 1989, especialmente entre eleitores de 16 e 17 anos. No entanto, chegou àquela explosão de popularidade que espelhava os anseios dos jovens da época, contaminando toda a sociedade.
O que podemos perceber hoje, na queda desse novo mito, é que está ocorrendo um movimento inverso, em que as manifestações em frente de quartéis do Exército são conduzidas por uma terceira idade com a camisa da Seleção que pede intervenção militar, saudosos de uma época obscura da política brasileira, os quais começam a entusiasmar jovens ainda em construção do seu civismo e maturidade política.
É desse rescaldo que a política brasileira precisa se livrar se quiser continuar trilhando rumo a um país desenvolvido, que não nega a ciência, que respeita a Educação, que sabe conviver com a diversidade e o contraditório, que repudia com todas as forças qualquer ideia extremista e de enaltecimento à ditadura e ao nazi-fascismo.
Além disso, existe uma multidão órfã fora da polarização de esquerda x direita e que jamais iria se embolar com um movimento que elege um mito que acena constantemente para a ditadura e se insurge diariamente contra as instituições que mantém de pé a democracia brasileira. É necessário que a política tome em um novo rumo sem odiar as diferenças, muito menos sem ignorar o meio ambiente e excluir movimentos sociais.
É por isso que a direita brasileira precisa se livrar do extremismo para construir uma liderança que isole o bolsonarismo com suas posições obscuras, devolvendo ao país uma política que olhe para frente, sem retroceder nenhum direito já conquistado, mas mirando um país democrático que possa entrar em uma rota de desenvolvimento que sempre almejamos.
Agora, precisamos sacodir essa poeira tóxica e devolver a paz a um país insuflado por incendiários, que viram oportunidade em um movimento de cabelos brancos que usa o clamor cívico, os quais não medem consequência para avançar em um projeto de um país entrevado entre um ultranacionalismo controverso e uma única religião que não aceita qualquer tipo de divergência.
Os jovens precisam enxergar que há uma política de verdade por trás dessa cortina de fumaça de protestos em frente de quartéis. Basta que os atores agora estejam dispostos a construir uma escada de volta e que possa devolver a luz e o ar fresco acima desse fosso que foi construído. O berrante precisa ser silenciado.
*Colunista