Jessé Souza

O pega ladrao que funciona para o pobre mas livra politicos e os mais ricos 12618

O ‘pega ladrão’ que funciona para o pobre, mas livra políticos e os mais ricos Jessé Souza*

Nas atuais circunstâncias, se alguém gritar “pega ladrão” no meio da rua, será o suficiente para a pessoa acusada ser linchada. Se for um venezuelano, então, as chances deste sobreviver são bem pequenas, pois a imigração desordenada fez emergir em nossa sociedade esse sentimento de ódio aos estrangeiros pobres.

A onda de violência pode até explicar esse ânimo nas pessoas de querer fazer justiça com as próprias mãos, uma vez que há uma descrença nas autoridades. Mas esse argumento se esvazia quando o acusado não costuma a andar a pé na rua, quando se trata de uma autoridade, não é negra ou indígena, estrangeira ou pobre.

Os comentários nas redes sociais sobre  as notícias políticas dos últimos tempos revelam que o mesmo tratamento dado  ao cidadão comum e estrangeiros não é o mesmo quando se tratam de políticos. Logo surgem os que não querem acreditar na acusação ou descredibilizar quem denunciou. 

Aquele político flagrado com dinheiro na cueca, por exemplo, transita normalmente nos órgãos públicos, comunidades indígenas, vicinais e nos bairros como se nada tivesse ocorrido. O assédio para o tradicional tapinha nas costas e aperto de mão segue o mesmo.

E assim ocorre com outros casos, em que muitos se tornam céticos quando o acusado é um político, especialmente se ele for daqueles tradicionais ou alguém de classe mais abastada. É como se somente a eles coubesse o exercício da dúvida e do contraditório.

Quando é um “zé ninguém” o acusado de estupro de criança, por exemplo, os comentários nas redes sociais são de condenação sumária, como se houvesse pena de morte no Brasil e como se as cadeias fossem locais para degola daqueles que a sociedade julga e condena sumariamente nas redes sociais antes do pronunciamento da Justiça.

Nossa sociedade está mergulhada em uma grande hipocrisia e em um preconceito de classe, em que pobre passa a odiar o pobre, na mesma proporção que enaltece os mais ricos como se eles estivessem acima de qualquer suspeita, mesmo que cheguem a ser presos. São tratados como vítima pelo “coitadismo” que cercam políticos sob acusação ainda que grave.

É por isso que, ao gritar “pega ladrão” a um político que esteja acabando de chegar a um aeroporto, é bem provável que o autor do grito seja preso e até mesmo guisado pelo público ali presente. Mas se esse grito de “pega ladrão” for a um anônimo trausante, seja onde for, certamente esta pessoa será trucidada por uma turba enraivecida que nem se dá ao trabalho de saber qual é a acusação.

Não é à toa que a política se tornou esse esgoto do qual emerge a podridão. Porque a sociedade entrou em um canibalismo social em que odeia os seus semelhantes mais pobres, mas enaltece uma elite que domina o país desde os tempos da Casa Grande e a Senzala. 

*Colunista